Numa entrevista o realizador e produtor Rodrigo Areias confessou que ao concluir não contar com dinheiro suficiente para a rodagem da curta-metragem «Estrada de Palha» decidiu … transformá-la num projeto de longa-metragem!
Essa paradoxal reação ao obstáculo diz muito do valor notável das nossas gerações mais jovens. A ideia inicial de Areias era uma rodagem em película, com um maior número de atores e irrepreensível guarda-roupa de época (a do período imediatamente posterior à implantação da República). A alternativa passou pela filmagem em suporte digital e com maior contenção nos meios de produção. Foi assim possível concretizar o primeiro western da cinematografia nacional.
Essa capacidade de não desistir, de encontrar formas de concretizar as aspirações diz muito de gerações bem mais novas do que a minha, que se tolhia na concretização dos impossíveis, conformando-se com formatações menos ambiciosas do que as circunstâncias pareciam limitar como possíveis.
Ainda neste fim-de-semana o Daniel Oliveira dava outro sinal da diferença das novas gerações em relação às anteriores: os alunos da Escola de Vagos, que se manifestaram ruidosamente contra a pressão homofóbica exercida para com duas colegas apanhadas a beijarem-se diz bem do quão mal vistos tendem a ser recebidos os preconceitos relativamente às opções amorosas de cada um. Doravante, e em função do clamor público criado com o caso, quem apostar em reagir da mesma forma saberá o que poderá ter como ricochete.
Mas já na última campanha eleitoral para a presidência da República, Sampaio da Nóvoa alertava para o quanto poderíamos estar enganados com o aparente alheamento dos jovens em relação à política. Em Viseu, numa das ações de propaganda, indagara alguns deles, que pareciam distanciados do grupo, então empenhado em contactar a população, e constatara o quanto eles estavam bem informados do que se passava, embora dissessem ainda não ser a sua hora.
Pelo que se vai constatando noutros países, onde o eleitorado jovem tem sido determinante nos resultados significativos de candidatos mais à esquerda, eles estão a demonstrar a vontade de se chegarem à frente, de considerarem oportuna a sua intervenção. E isso só pode dar substância ao otimismo de quem acredita nos valores das esquerdas. É que, quando eles despertam e agitam a realidade, o mundo volta a pular e a avançar.
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