Vi há pouco o Emmanuel Macron a votar e, embora tratando-se do candidato em que apostaria - o fascismo é, de facto, a besta imunda, que importa sempre travar e, tanto quanto possível, esmagar! - não deixo de dar razão ao Daniel Oliveira quando, no «Expresso» deste fim-de-semana diz: “Mesmo que o voto em Macron seja evidente e inevitável, não há qualquer aliança possível com a sua contrarreforma e com o movimento de esmagamento de toda a esquerda, socialistas incluídos, que ele protagoniza”.
Podemos agradecer-lhe o facto de ter desmascarado a essência fascista de Marine Le Pen durante o debate televisivo desta semana, mas essa qualidade não impede que ignoremos o que disse, o que defende. E o que gostaria de implementar se contasse com uma maioria parlamentar suficientemente dócil para conduzir ao bom porto a que aspiram os que nele se revêem e apoiam convictamente.
A França chegou a esta eleição presidencial com o mesmo dilema que se colocam, hoje em dia, às sociedades capitalistas mais avançadas: ou procura avançar com a lógica do seu crepuscular esgotamento e agudiza ainda mais as desigualdades (é o resultado previsível do programa de Macron) ou tenta meter a cabeça debaixo da areia, recusando-se a encarar a realidade mediante a retoma das tradições históricas dos que derrotaram a Comuna de Paris, criaram uma histeria antissemita com o caso Dreyfus, colaboraram com os nazis ou torturaram e assassinaram para manter francesa a Argélia e as demais colónias africanas (é o legado, que inspira a Le Pen junior).
Compreende-se que o Partido Socialista inicie a campanha para as legislativas já na segunda-feira, decidido a contrariar quantos querem acreditar na possibilidade de Macron contar, a partir do Eliseu, com um governo prestável ao seu desígnio pró-financeirização extremista da sociedade francesa.
O facto de uma grande maioria dos que hoje nele votam reconhecerem que o fazem contra a adversária e não por o terem como suprassumo da barbatana dá razão a quem augura a possibilidade de serem as legislativas a terceira volta da luta de classes vertida em combate eleitoral na França atual. E aí a escolha voltará a alargar-se, não se restringindo à que hoje implica.
Entre dinâmica de derrota, que porá a Frente Nacional a ajustar contas com a sua líder - algo que o pai já começou e a prima Marion ainda mais execrável, não deixará de prosseguir! - e a vontade dos eleitores de esquerda em corrigirem o tiro do falhanço desta eleição, há razões para ter esperança!
Ah ça ira, ça ira!
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