Será que depois de ver a reação de tocar a reunir por parte dos socialistas na Convenção Autárquica deste sábado, Rui Moreira irá dormir tranquilo na noite agora em curso?
Duvido. Se a forma ostensiva como quis humilhar o parceiro da coligação pareceu, favorece-lo num primeiro momento, a rápida reação da liderança socialista constitui um bom exemplo de como julgando-se hábil a semear ventos, Moreira apresta-se para suportar forte tempestade de que poderá não sair indemne.
Como quem não se sente não é filho de boa gente os socialistas entusiasmaram-se com a possibilidade de devolverem o troco a quem os pretendera achincalhar, Criaram assim as condições para uma grande unidade em torno da candidatura de Pizarro para vê-lo colher os frutos do excelente trabalho desenvolvido sob tão equívoca subordinação. Porque são muitos os testemunhos alusivos ao facto de ter sido ele o «carregador de pianos» de uma vereação, que depois deixava a sua prima dona colher os louros.
Não é só o facto de estar sob suspeita de conflito de interesses por causa da imobiliária da família, que Moreira pode estar em xeque: o seu discurso antipartidos pode ter eco nalgum eleitorado menos instruído, mas já não colhe tanto apoio quanto há quatro anos, quando o governo das direitas dava razão a esse desfasamento entre as aspirações das populações e o comportamento dos protagonistas políticos de então.
Hoje muitos portuenses sentem que a atual maioria parlamentar contribuiu decisivamente para a melhoria da qualidade de vida e das esperanças quanto a um futuro melhor. Daí que seja provável sucesso mais mitigado de Moreira na sua ambígua argumentação, típica de quem mantém com os valores democráticos uma relação no mínimo suspeita.
Ademais ele esquece-se de pormenor relevante: uma campanha implica o trabalho desinteressado de muitos apoiantes, que raramente se encontram fora dos partidos políticos. Significa isso que Ilda Figueiredo contará com a excelente organização da máquina comunista, João Semedo terá por si o entusiasmo dos militantes bloquistas e até o candidato do PSD terá condições de ter recursos humanos e financeiros mais substanciais para investir na campanha do que o movimento «independente» conotado com o CDS.
O entusiasmo com que foi hoje acolhida a designação de Manuel Pizarro para encabeçar a lista socialista na conquista da Câmara do Porto faz prever que a sua organização de apoio será a mais participada e entusiasmada, apostando claramente numa expressiva vitória. Tornou-se, assim possível, que o PS acrescente o Porto às capitais de distrito lideradas pelos seus candidatos a partir do próximo outubro. Nessa altura, lambendo as feridas depois de perdido o combate, Rui Moreira apenas poderá queixar-se de si mesmo.
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