Por regra não costumo assinar petições públicas, porque valorizo a capacidade de definição de prioridades dos deputados em quem confio. Por isso pressioná-los para as alterarem em função das pressões da chamada «sociedade civil» não cabe na minha conduta tanto mais que elas habitualmente coincidem com os interesses corporativos de um grupo muito específico de cidadãos, que veem nessa ferramenta uma momentânea tática para porem em causa a legitimidade do governo eleito pela maioria dos eleitores.
Outro agir justifica-se em relação à petição lançada por Manuel Alegre, Marisa Matias e outros proponentes para homenagear o 25 de abril, mormente através das comemorações previstas para a Assembleia da República. Na realidade essa iniciativa visa contrariar outra, oriunda de setores, que sempre detestaram a Revolução dos Cravos e tudo fazem para lhe tolherem os efeitos, sendo incompreensivelmente ecoada pelos canais de televisão para lançarem a ideia de haver uma significativa contestação ao que se passará em São Bento no próximo sábado. Para o absurdo ser maior lançaram a ilegítima comparação entre uma data que diz respeito a uma enormíssima maioria dos portugueses com uma outra, muito justamente condicionada pelas regras de saúde pública e só relevante para os crentes de uma das muitas religiões entre nós professadas por quem ainda acredita haver algum ser imaterial e superior a ditar-lhes os destinos.
Explica-se assim que a exceção a uma regra de comportamento pessoal se tenha alterado nesta altura e motivasse muitos dos meus amigos a replicarem o gesto de a assinarem. Importa demonstrar aos que continuam eivados da nostalgia pelo 24 de abril, que são efetivamente minoritários na sociedade portuguesa. E que terão de, a contragosto, sujeitarem-se à vontade da maioria expressa no número de deputados na Assembleia da República.
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