terça-feira, 21 de abril de 2020

As inovações que podem limitar a nossa liberdade


Esta noite o canal franco-alemão ARTE apresenta três documentários subordinados a temas, que se revelam pertinentes nos nossos dias: deveremos aceitar a privação das nossas liberdades individuais para que, da vigilância tipo Big Brother a que nos sujeitem, resulte a sensação de segurança perante agressões de delinquentes? Será que a Inteligência Artificial trará como consequência inevitável o desemprego generalizado de significativas camadas da população? E até que ponto se continuará a permitir o trading de alta frequência, que satisfaz quem aufere enormíssimos lucros com operações financeiras sem qualquer relação consistente com a economia real?
No início dessa programação ficaremos a saber que existem atualmente 500 milhões de câmaras espalhadas pelo planeta para vigiarem todos os passos que damos. A pretexto da luta contra o terrorismo e a criminalidade desenvolveram-se tecnologias de controlo facial e até mesmo quando estamos de costas. O vírus da ideologia securitária instalou-se entre nós  limitando o direito de nos movimentarmos sem que mais ninguém tenha a ver com o quanto façamos. E criou-se um enorme negócio, que se traduz em haver quem embolse fatias do imenso bolo de 40 mil milhões de dólares, o valor por que são comercializados anualmente novos equipamentos destinados a tal fim. O relacionamento entre as empresas vocacionadas para o seu fabrico e muitos Estados, mesmo ditos democráticos, toma a dimensão de indecorosa promiscuidade.
Pode-se dizer que, depois de ouvirmos tantas censuras aos campos de trabalho soviéticos, as mesmas sociedades que tanto apregoam as liberdades dos cidadãos, preparam-se para os sujeitar a um monstruoso gulag cibernético. E não se pense que essa hipótese acontecerá, sobretudo, nos outros países e em tempos distantes: há poucos dias não ouvimos o Chicão do CDS propor com indisfarçável entusiasmo, a geolocalização de todos os infetados com covid-19 como forma expedita de pôr a economia a funcionar?
No segundo documentário da noite depararemos com os algoritmos que tendem a comandar-nos os dias. Os tais que Stephen Hawking reconhecia como integrando um dos grandes acontecimentos da História Humana, mas porventura também o derradeiro. E, se se ouvirão os que tecem loas à Inteligência Artificial por dela se alcançarem curas para doenças, soluções para contrariar os efeitos das mudanças climáticas ou para mitigar a pobreza planetária, também não faltarão as opiniões dos que temem ver-nos despojados da condição de indivíduos para nos reduzirmos á de meros dados.
E os mesmos algoritmos estão no terceiro documentário sobre as operações ultrarrápidas nas Bolsas mundiais a possibilitarem lucros obscenos a quem beneficia com as múltiplas transações em milissegundos que, apesar de se traduzirem em margens reduzidas, acabam por se revelar espantosamente rentáveis pela sua multiplicação. Em minutos o mesmo produto aumenta de valor graças ao número de compras e vendas de que se vê alvo.
Tendo dispensado os corretores, os donos das Bolsas puseram robôs a comandarem os mercados, daí resultando que, na atual fase do capitalismo, não é o investimento a fonte legítima do lucro, mas essas operações mais aparentadas com as atividades dos casinos. E assim corre o capitalismo para a sua definitiva destruição, embora esteja por determinar se não levará para esse desenlace a própria Humanidade. 

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