sexta-feira, 17 de abril de 2020

A facilidade de discernir os atuais contornos da luta de classes


As críticas malévolas de uns quantos medíocres vão esbarrando em factos incontestáveis: por esta altura Portugal é mundialmente um dos países que faz mais testes de diagnóstico ao covid 19, o número de ventiladores disponíveis é muito maior do que o dos pacientes em cuidados intensivos mesmo sem terem chegado as centenas atempadamente encomendadas a fabricantes chineses e, comparativamente com a maioria dos parceiros europeus, a taxa de mortalidade  é mais baixa quedando-se pelos 3,2 %.
Poucos duvidarão, que os tais críticos estão com aqueles que fogem com dinheiro para a Holanda fazendo ao país perder 236 milhões de euros em cada ano de acordo com o estudo da Tax Justice Network ou que se aprestem a pagar dividendos a acionistas numa altura em que tantos trabalhadores e pequenos empresários se veem aflitos para satisfazer a própria sobrevivência. São também os mesmos, que terão batido palmas ao deputado do CDS que, antecipando-se ao vizinho do lado, propôs que não se comemorasse o 25 de abril, como se celebrar a Liberdade fosse incompatível com os constrangimentos da crise sanitária.
A maldade, que anda à solta por aí  não se traduz apenas nas cenas vindas de Espanha sobre o vandalizado carro de uma médica ou cartas anónimas a enfermeiras ou caixas de supermercado a instarem-nas a mudar de casa para não porem em risco a saúde dos vizinhos. Esse é um retrato do que se pode designar como a da ruindade ordinária em todos os sentidos desta palavra. Há a outra, a mais sofisticada e que leva Eliana Brum a escrever no «El Pais» que, depois da pandemia, o pior será voltar à «normalidade». Porque é sob a sua capa, que as fortunas obscenas ainda mais infames se tornam. Veja-se o caso do homem mais rico do mundo, Jeff Bozos que aproveitando este clima de incertezas, somou mais 24 mil milhões de dólares à sua já indecorosa riqueza. Os clientes da Amazon, que tenham alguns pesadelos à conta de ajudarem o tratante...
Há, porém sinais suscetíveis de alimentar alguma esperança: apesar de muitos imaginarem-no imbatível em novembro, Trump vai acumulando sucessivas mostras de nervosismo perante o que pressente vir a ser humilhante derrota. Os abusos de poder denunciam-lhe a insegurança, quer quando hostiliza governadores, corta fundos à OMS ou ameaça suspender o Senado. A derrota do seu candidato para o Supremo no Kentucky, mesmo perante uma democrata assumidamente pró-aborto e pró-casamentos gay, demonstra uma grande mobilização de democratas para lhe travarem as ambições. E bem sabemos como um acontecimento de importância aparentemente relativa - e o perfil de Biden bem justifica que assim o designemos - acaba por despoletar mudanças significativamente maiores...

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