sexta-feira, 10 de abril de 2020

A competência de Centeno face à mediocridade de uma assombração


Sabemos que o acordo no Eurogrupo, conseguido nesta quinta-feira, ainda não é aquele que as circunstâncias justificariam, nem o que se esperaria de uma União Europeia disposta a potenciar-se como projeto alternativo ao das grandes potências rivais, EUA ou China. Mas, na substância, significam apoios não despiciendos para responder à crise económica herdada da presente situação de emergência sanitária. E para que tal tenha sucedido importa valorizar o papel de Mário Centeno, uma vez mais providencial na conjugação de vontades de forma a que o objetivo prioritário se alcançasse. E com um esforço extraordinário como se comprova nas cavadas olheiras, que se reinstalaram no rosto, quando, finalmente, leu o comunicado final da reunião de ontem.
Esta constatação ocorre numa altura em que, por dias seguidos, vi as televisões apelarem a Durão Barroso para comentar os atuais acontecimentos. Manifestamente persiste nesses media uma corrente direitista ansiosa em enaltecer o potencial presidenciável de tal figurão como se dele pudéssemos reter um argumentozinho, mesmo que mínimo, em que tivesse feito algo em prol dos portugueses.
Não esqueçamos que, tão só chegado a primeiro-ministro, graças ao sucesso das táticas demolidoras das direitas instaladas na comunicação social quando os socialistas estão no governo, assustou-se com a responsabilidade do cargo e cuidou de fugir para Bruxelas. Confortável no papel de mordomo de Bush e Blair na cimeira das Lajes, concluiu que a presidência da Comissão Europeia não lhe permitiria repetir essa função, mas também não lhe ficaria mal a de amanuense de quem nela mandava por lhe exigiram tão escassas competências. Não esqueçamos este facto relevante: Durão Barroso preencheu essas funções entre 2004 e 2014 com a mesma mediocridade e sem cumprir o que prometera na hora da partida: que em Bruxelas seria inestimável apoio aos portugueses, cujos interesses sempre defenderia. Veio a crise de 2008, que não soube contrariar por ser-lhe inacessível um pensamento estratégico digno desse nome, e os portugueses foram sujeitos ao violentíssimo programa da troika a partir de 2011 até cessar funções o governo, que queria ir além das correspondentes exigências. Sentiu-se algum benefício da «presidência» de Durão Barroso nesse período? Nem um, enquanto os malefícios foram mais do que muitos.
É por isso que vê-lo nas televisões, a perorar banalidades, justifica emotiva indignação. Porque o mínimo que Durão Barroso deveria fazer, demonstrada tão incurável mediocridade, era silenciar-se no usufruto das mordomias dadas por quem lhas faculta. Desde a sua substituição por Juncker ele tem recolhido os prémios de ter sido um verbo de encher enquanto, à pála da Comissão Europeia, os lucros das grandes financeiras subiram estratosfericamente. Por cá ele deverá sempre sentir o receio de repetirem-se as cenas vividas há meia dúzia de anos quando quis ir ao Teatro Municipal de Almada e teve de fugir a sete pés por haver quem tivesse vontade de lhe chegar a roupa ao pelo.
É perante tão lamentável exemplo, que a figura de Mário Centeno pode e deve ser enaltecida: genuinamente tem feito quanto está ao seu alcance para defender os interesses nacionais perante um grupo de ministros das Finanças, apostados em prejudicarem-nos. E se não tem conseguido o ótimo vai fazendo os possíveis para alcançar o que, a cada momento, se revela exequível.

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