Porque quem o tem, facilmente tem medo, Boris Johnson parece ter menos pressas em aliviar o confinamento dos britânicos do que as havidas quando não o decretou quando mais era necessário. Sentir na pele e, sobretudo, nos pulmões, os efeitos do vírus bastou-lhe para tomar um banho de realidade, que lhe devolveu a sensatez perdida nos tempos do jornalismo e ainda não se deixava tentar pela costela arrivista tão explicitamente demonstrada ao escolher o campo de batalha entre quem queria ficar na União Europeia e os que dela se pretendiam apartar.
Na crónica de hoje o Miguel Esteves Cardoso diz preferir esta faceta do Boris como tivesse garantias dela lhe perdurar nos próximos tempos. Que não é assim mostra-o Bernardo Ferrão, um dos locutores da SIC, que se julgam jornalistas por se atiçarem nas críticas ao governo. Há um par de anos atrás ele passou por um ataque cardíaco no aeroporto, não poupando então nos elogios ao Serviço Nacional de Saúde, que afiançava ter-lhe salvo a vida. Nessa altura pôs-se a hipótese de vir a ser mais comedido nas intervenções e escolhas de convidados no «Expresso da Meia-Noite» que, com a saída de Nicolau Santos, se tornara numa coisa ainda mais tendenciosa do que costumava ser até aí.
Engano de quem se quis iludir: não tardou muito para que ele voltasse ao antigo «normal» e mordesse nas canelas do governo quando o ensejo se lhe apresentava, quase sempre sem verdadeiros fundamentos que o guiassem.
Perante esse luso exemplo não há muito a esperar do primeiro-ministro inglês até por saber-se contemplado com uma oportunidade de ouro para se safar da enrascada mais problemática: a de explicar ao eleitorado inglês como o rompimento com Bruxelas não lhe terá garantido o prometido tempo das cerejas mas, pelo contrário, a perda de empregos e de rendimentos. Agora tem o vírus prontinho para lhe servir de bode expiatório. Nesse sentido revela-se bem mais esperto que Trump ou Bolsonaro cujos sinais de desespero se agudizam nos últimos dias: um e outro sabem que o recurso a esse tipo de expedientes não escamotearão a incompetência com que reagiram à crise atual e cujos efeitos devastadores não cessam de nos espantar pela sua dimensão nos respetivos países.
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