sábado, 4 de abril de 2020

Revisão da matéria dada


A tática não é nova, mas volta a repetir-se por estes dias a propósito de se indultarem ou não algumas centenas de encarcerados nas sobrelotadas prisões do país.
Dias a fio as televisões apresentaram propostas nesse sentido de responsáveis intermédios do setor da Justiça e de alguns especialistas conhecidos, muitos deles conotados com as ideologias de direita. Os argumentos eram sensatos: como garantir um confinamento eficiente em celas com cinco ou seis presos? Que perigo pode advir de pessoas a verem próximo o cumprimento da pena e cuja avançada idade dificultará o regresso à atividade criminosa?
De repente até pareciam prevalecer os pareceres de quem criticava o governo por tardar na concretização de tal medida.
Eis que a proposta, aparentemente consensual na sociedade portuguesa, começou a ser preparada a nível do Ministério da Justiça e logo irromperam os oportunistas a quererem ver nela a demonstração do inaceitável facilitismo do governo para quem merece ficar enclausurado até ao último minuto das respetivas penas.
Que o aldrabão do Chega levantasse a voz nesse sentido não se estranha. Ele é o exemplo mais flagrante de como um escroque não tem o mínimo escrúpulo para ver bem sucedida a estratégia, que julga levá-lo ao palanque. Mas que haja quem da direção do partido a que Rui Rio procura dar uma aparência de seriedade secunde os mesmos argumentos já outra conclusão se tira: quando a direita, que se quer apresentar como centrista, veste a pele do populismo pós-fascista, só confirma a forte probabilidade de a ele se juntar quando o pote der mostras de dela se manter duradouramente afastado.
Mas pior ainda a atitude de Marcelo a dar razão a quem em tempos lhe deu o nome de catavento (mesmo que em tudo o mais não tivesse ponta de razão!): pondo o nariz no ar a ver donde sopram os ventos dominantes, o inquilino de Belém já fez saber que será dele a última palavra. Procurando ganhar simpatias nos que estão de acordo com o indulto se adivinhar ser essa a tendência dominante ou juntando-se aceleradamente aos que se opõem oportunisticamente ao governo se adivinhar alguma vantagem nessa opção.
Por muito que os prosélitos de Marcelo se irritem com esta constatação continuamos a ter como presidente quem decide em função da direção que tomam os ventos.

Sem comentários:

Enviar um comentário