Quando chega o 11 de setembro costumam-se evocar dois acontecimentos a título de efemérides. O mais recente foi o do atentado contra as Torres Gémeas, que comportou um conjunto de consequências nefastas para os tempos que se seguiram. Basta ver a facilidade com que antes nos deslocávamos entre aeroportos e as dificuldades hoje suportadas fazendo-nos sentir alvos de uma suspeição, que tanto nos impede de transportar líquidos como obriga a comparecer mais cedo à hora aprazada para voar.
O pior não foi, porém, esse efeito. Ele viria da reação estúpida de George W. Bush, que aproveitaria para invadir sucessivamente o Afeganistão e o Iraque, agravando uma perturbação, que vinha de Ronald Reagan, quando considerou o Médio Oriente e a Ásia Central como terreno preferencial de batalha definitiva da Guerra Fria. O islamismo radical da Al Qaeda foi financiado pela CIA e a sua versão estatista na Arábia Saudita continua a merecer os favores de Trump ou não tivesse ali um dos mais apetecíveis mercados para a venda de armas do complexo político-militar norte-americano. Ademais, a vinda de vagas sucessivas de refugiados para a Europa, gerando o efeito colateral de darem gás às extremas-direitas, são outra das consequências indiretas de tal episódio.
Não tendo estado na origem do conluio entre o capitalismo selvagem dos republicanos e o terrorismo islâmico nas suas diferentes versões, os atentados de 2001 só o consolidaram mesmo que de forma mais encapotada.
Prefiro, porém, ater-me ao golpe fascista, que assassinou Salvador Allende por ser aquele que melhor permite aprender as lições, que as esquerdas tardam em assimilar. Recorde-se que o presidente socialista nunca teve vida fácil, ora respondendo às sabotagens constantes dos principais empresários chilenos, ora enfrentando uma comunicação social subsidiada pela CIA e que antecipava o quanto hoje é feito entre nós pelo pasquim da Cofina ou pelo semanário de Balsemão: um empolamento constante dos aspetos mais negativos da realidade, mesmo que herdados dos governos das direitas, e um escamoteamento total dos bons indicadores resultantes da governação.
Embora não hajam condições para imitar quem um dia disse que a Revolução não é nenhum convite para jantar, o golpe de Pinochet demonstrou a ausência de qualquer escrúpulo de quem se sente ameaçado nos seus injustificados privilégios. Quando a agudização da luta de classes atinge uma dimensão próxima da rutura as direitas não hesitam em prender, torturar, assassinar e fazer desaparecer os corpos. É por isso que as esquerdas não podem ser tão passivas perante os ataques de que são alvo nesta suposta democracia, que está muito longe de o ser. Por norma os bonzinhos demais lixam-se. E as nossas esquerdas andam demasiado boazinhas para escaparem ao constante boicote de que são objeto!!!
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