Dedico aos textos de Alfredo Barroso uma atenção não muito empenhada, tendo em conta que discordo amiúde do estilo e das ideias. Mas os que deu a conhecer nestes últimos dois dias fazem sentido bastante para colocarmos as suas teses no congelador, testando-lhes a consistência em função dos acontecimentos futuros.
Naquele que me parece mais pertinente cita um politólogo norte-americano, Sheldon Wolin, que criou o termo «totalitarismo invertido» para designar o atual momento do capitalismo caracterizado pelo investimento ativo de poderosas organizações privadas no domínio público, comprando e corrompendo os eleitos. Em vez da ditadura mais óbvia, assente num déspota individual ou na organização por ele liderada - que facilitaria a identificação de quem se deve contestar! - enfrentamos uma coisa disfarçada, mas não menos cerceadora das liberdades coletivas, em que os oprimidos quase não têm consciência de tal condição. Para o conseguirem essas organizações monopolizam a propriedade dos meios de comunicação social, de forma a restringir o mais possível as ideias por eles difundidas. Os seus mandatários chamam-se Orban, Salvini ou Marine Le Pen, mas os verdadeiros mandantes escondem-se por trás de um anonimato, que os acautela das consequências dos eventuais fracassos.
Alguns governos europeus muito influenciados pelos preconceitos das extremas-direitas já enveredam por essa transformação, fingindo-se democráticos na forma, para melhor o não serem nos conteúdos. E da Suécia, que tem eleições por estes dias, até ao nosso país, onde Santana Lopes ambiciona juntar-se ao cortejo populista, não faltam candidatos a quem os financie e lhes dê um catálogo de «ideias» prontas-a-vestir.
Noutro texto Barroso relaciona as proclamações de Mário Nogueira com a estratégia do PCP em dissociar-se o mais rapidamente possível do atual governo, cuja continuidade teme ver traduzida na degradação da sua influência eleitoral. O ideal para o PCP seria o regresso das direitas ao poder de forma a, pela luta social intensa, apresentar-se como a oposição de esquerda mais consequente, ultrapassando o Bloco de Esquerda, que não tolera ver com mais deputados.
A exemplo do que já sucedera na época do governo de José Sócrates, os professores mais não serviriam do que de prestáveis peões a uma manobra política, que se está perfeitamente nas tintas para os seus interesses corporativos.
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