terça-feira, 4 de setembro de 2018

Algumas teses pertinentes, mesmo que por serem indubitavelmente demonstradas


Dedico aos textos de Alfredo Barroso uma atenção não muito empenhada, tendo em conta que discordo amiúde do estilo e das ideias. Mas os que deu a conhecer nestes últimos dois dias fazem sentido bastante para colocarmos as suas teses no congelador, testando-lhes a consistência em função dos acontecimentos futuros.
Naquele que me parece mais pertinente cita um politólogo norte-americano, Sheldon Wolin, que criou o termo «totalitarismo invertido» para designar o atual momento do capitalismo caracterizado pelo investimento ativo de poderosas organizações privadas no domínio público, comprando e corrompendo os eleitos. Em vez da ditadura mais óbvia, assente num déspota individual ou na organização por ele liderada - que facilitaria a identificação de quem se deve contestar! - enfrentamos uma coisa disfarçada, mas não menos cerceadora das liberdades coletivas, em que os oprimidos quase não têm consciência de tal condição. Para o conseguirem essas organizações monopolizam a propriedade dos meios de comunicação social, de forma a restringir o mais possível as ideias por eles difundidas. Os seus mandatários chamam-se Orban, Salvini  ou Marine Le Pen, mas os verdadeiros mandantes escondem-se por trás de um anonimato, que os acautela das consequências dos eventuais fracassos.
Alguns governos europeus muito influenciados pelos preconceitos das extremas-direitas já enveredam por essa transformação, fingindo-se democráticos na forma, para melhor o não serem nos conteúdos. E da Suécia, que tem eleições por estes dias, até ao nosso país, onde Santana Lopes ambiciona juntar-se ao cortejo populista, não faltam candidatos a quem os financie e lhes dê um catálogo de «ideias» prontas-a-vestir.
Noutro texto Barroso relaciona as proclamações de Mário Nogueira com a estratégia do PCP em dissociar-se o mais rapidamente possível do atual governo, cuja continuidade teme ver traduzida na degradação da sua influência eleitoral.  O ideal para o PCP seria o regresso das direitas ao poder de forma a, pela luta social intensa, apresentar-se como a oposição de esquerda mais consequente, ultrapassando o Bloco de Esquerda, que não tolera ver com mais deputados.
A exemplo do que já sucedera na época do governo de José Sócrates, os professores mais não serviriam do que de prestáveis peões a uma manobra política, que se está perfeitamente nas tintas para os seus interesses corporativos.

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