Tenho para comigo que, no contexto de automação e robotização da economia, com programas informáticos e equipamentos de tecnologias já disponíveis a tornarem obsoletas muitas das tarefas ainda capazes de garantirem emprego a milhões de pessoas, o capitalismo não tardará a entrar numa nova fase, que nada tem a ver com a atualmente imposta pelos figurões à frente das instituições europeias. Pelo contrário: hoje em dia eles já estão obsoletos no confronto com um futuro próximo para o qual as suas mentes já não se conseguem reformatar. Os Schäubles & Cª estão politicamente mortos, mas ainda cuidou de os informar.
Para sobreviver o Capitalismo precisa que a maioria dos seus cidadãos abandone a condição de fornecedores de mais-valias à conta da exploração do seu trabalho, mas em consumidores, cujo dever é o de se deixarem alienar com tudo quanto lhes passará a ser disponibilizado por uma sociedade autocrática, com os meios de produção possuídos e comandados por uma casta ciosa de preservar esse poder. Por isso venham muitos futebóis, telenovelas, reality shows e coisas similares, que despojem de sentido crítico os que só valerão em função do que consumirem.
Existirá, então, um rendimento fixo e mensal por cidadão, desde o nascimento até à morte. E enquanto os defensores desta ideia conotados com a direita, são fiéis aos seus sentimentos assistencialistas, que faria dos cidadãos-consumidores uma enorme multidão de pobrezinhos agradecidos e submissos, à esquerda defende-se esta remuneração como uma base à qual se somarão os rendimentos obtidos complementarmente em atividades laborais ou criativas.
A ideia até nem é muito inovadora, porque Milton Friedman, em nome do seu monetarismo, chegava a sugerir que a Reserva Federal Americana emitisse dólares e, depois, os distribuísse através de helicópteros, que voariam sobre as cidades a distribuírem-nos aleatoriamente por quem os apanhasse. De alguma forma também é isso que, sem sucesso, Mario Draghi anda a fazer para promover o crescimento europeu, facilitando dinheiro aos bancos para que eles financiem projetos de empreendedores privados, o que não tem acontecido. Por isso já há quem defenda, que estes índices muito baixos de inflação e crescimento só terão solução se, em vez de entregar dinheiro aos bancos, o BCE oferecesse, por exemplo, 500 ou 600 euros de uma assentada a todos os cidadãos comunitários, que, logo os gastando em bens e serviços transacionáveis, alavancariam as economias para patamares mais elevados de oferta e de procura.
É por isso mesmo que esta ideia de um rendimento fixo a distribuir pelos cidadãos vai ter pernas para andar, apesar da derrota dos seus promotores no referendo suíço de algumas semanas atrás. Até por já estarem a avançar novas experiências nesse sentido, nomeadamente na Finlândia e na Holanda.
O capitalismo acaba sempre por encontrar uma solução judiciosa para sobreviver a cada iminente fim. E, então, se se mascarar de conceitos roubados à esquerda - como a igualdade de rendimentos num grande número de cidadãos - as hipóteses de sucesso serão bastante maiores.
Caberá à esquerda defender que esse tipo de rendimentos não se destinarão a acautelar a paz social para os detentores do poder e dos meios de produção, mas de conquistar ambos e distribui-los de acordo com os princípios de Igualdade, Solidariedade e Liberdade, que devem nortear todas as instituições políticas...
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