sexta-feira, 1 de julho de 2016

Futebóis e justiças tardias

1. Pode ser opinião impopular nesta altura em que ainda se bebem as últimas bejecas e se comem os últimos tremoços à conta da passagem da seleção portuguesa para as meias-finais do Europeu de Futebol em França, mas os sucessos conseguidos por Cristiano & Cª têm sido embaraçosos por faltarem em campo os argumentos de vontade, talento e energia para tornar irrefutável o mérito dos sucessivos triunfos.
Pode-se admirar o pragmatismo de Fernando Santos, que se sentirá satisfeito se se sagrar campeão europeu só com empates, mas convenhamos que o orgulho luso exige bem mais do que chico-espertice e uma dose razoável de sorte.
Sabemos que já houve um Europeu em que os dinamarqueses até conseguiram ganhar sem serem, de longe, a melhor seleção de então. Algo que os islandeses vêm por ora repetindo! Mas perdoem-me o pudor: eu gosto de ganhar, quando sei que o meu lado é, de facto, o melhor.
Ora, o que se tem visto tem sido de uma indigência não compatível com esse requisito incontornável…
2. Na minha tentação para fazer do futebol a metáfora com a conjuntura política, poderiam alguns sugerir-me que algo de semelhante está a acontecer com o governo de António Costa: os resultados estão a aparecer, como demonstram os números do INE, mas sem o brilhantismo bastante para calar as provocações de Schäuble e Rajoy, ou as opiniões caducas de Subir Lall.
Mas, ao contrário, da seleção portuguesa de futebol, os diversos craques do Governo já estão a abrilhantar-se a toda a força, desde Maria Manuel Leitão Marques com o seu novo Simplex, Pedro Marques com a volta dada ao imbróglio da TAP, Ana Paula Vitoriano a resolver de vez o conflito dos estivadores ou Alexandra Leitão a desbaratar os parcos argumentos dos supersubsidiados colégios privados.
Explica-se assim o otimismo de António Costa, que sabe ter desafios muito difíceis para enfrentar, mas talento de negociador e de liderança de equipas ministeriais quanto baste para conseguir sucessos indiscutíveis.
É por isto que considero termos, nesta altura, uma seleção de futebol uns furos abaixo do governo que lhe cria as condições para ser mais bem sucedida do que tem acontecido até aqui.
3. Estamos, igualmente, num dia em que, mesmo tarde, vai-se fazendo justiça nas formas mais opostas.
A homenagem a Salgueiro Mais, com Marcelo a convidar a família do capitão de abril para lhe entregar a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique a título póstumo só peca pelo atraso com que deveria ter sido atribuída. Mas, se podemos lamentar que Mário Soares e Jorge Sampaio tenham pecado por omissão, sabemos bem quanto Cavaco teve para com o agora condecorado a reiterada mesquinhez de o querer apagar dos livros de História.
Cavaco nunca percebeu que, na forma como elegeu inimigos de estimação da dimensão de Saramago ou de Salgueiro Maia só se apoucou, desqualificando-se para a condição de pior Presidente da República, que este país conheceu até à data.
E Cavaco só não ganha o estatuto de pior primeiro-ministro do pòs-25 de abril, porque aconteceu o imprevisível: quando julgáramos ter atingido o patamar mais baixo, Passos Coelho ainda conseguiu afundá-lo um pouco mais.
No que ambos, Cavaco e Passos Coelho conseguiram equivaler-se foi na qualidade dos seus melhores amigos. Sem que precisemos ir mais atrás e evocar os diasloureiros ou os duartesliamas, estes dias deram-nos mais dois exemplos elucidativos: o homem de confiança de um para tomar conta do Museu da República e da Fortaleza de Cascais vai preso por peculato  enquanto o grande guru  Relvas perde de vez a sua polémica licenciatura.
Ironicamente o Pedro Vieira devolveu-o no facebook à condição de finalista de liceu com direito a uma viagem memorável a Lloret del  Mar.
4. Outro tipo de Justiça a longo prazo é a que anunciou um Tribunal da Flórida ao condenar o assassino de Vítor Jara, 43 anos depois dele ter  sido mutilado e abatido no Estádio Nacional do Chile .
Pedro Barrientos, o nome do criminoso, bem tentou iludir os tribunais do seu país, casando com uma norte-americana e adquirindo uma nacionalidade, que julgava inexpugnável aos que reclamavam a sua condenação. Mas o imperialismo não protege o «peixe miúdo» que lhe serviram de operacionais da tenebrosa Operação Condor.´
Agora torna-se possível a expatriação de Barrientos para o Chile onde o esperam novos julgamentos destinados a fazê-lo pagar pelos seus crimes.
Outra informação adicional também comporta o seu lado de justiça a longo prazo: apesar de contribuir para o fim de um dos mais esperançosos governos latino-americanos de sempre, Barrientos vivia agora pobremente como exilado de uma terra muito diferente da que poderia imaginar como a dos seus sonhos.





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