Um dos mais conhecidos poemas satíricos de Camões tem por protagonista um tal Perdigão, que se quis alçar a tão alto lugar - diz-se que ao amor da belíssima infanta D. Maria - que cairia desamparado por rotundo insucesso.
Lembrei tais versos a respeito da semana horribilis de Passos Coelho. Também para ele não há mal que lhe não venha: já não basta começarem a surgir indicadores económicos, que desmentem-lhe a tese sobre uma economia estagnada e logo lhe caiu em cima a decisão da Comissão Europeia sobre a não aplicação de sanções Portugal.
No Chão da Lagoa, onde foi a estrela maior da festa do PSD madeirense, quis subir a um alto lugar, prevendo a iminência da catástrofe do meio da qual poderia regressar como uma espécie de santo redentor. Tratar-se-ia, a seu ver, da derradeira oportunidade para querer voar a uma alta torre.
Viu-se depois o resultado: não teve no ar nem no vento asas com que se sustenha. Foi tal o choque com a realidade que ganhou a pena do tormento.
Vendo-se depenado, optou e bem pelo silêncio a pretexto de súbita doença, que o poupou à audiência com Marcelo Rebelo de Sousa. É que, hoje, se a queixumes se socorre, lança no fogo mais lenha.
Manifestamente não há mal que lhe não venha a este Passos subitamente transformado em Perdigão. Aproximando-se a galope o momento em que deixará a condição de Perdigão e se verá devolvido ao anonimato de onde jamais deveria ter saído.
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