Não são poucas as vezes em que, vendo os atentados terroristas numa Bagdad juncada de ruínas e de ruas ensanguentadas pelo martírio de crianças, penso no quanto se passará na mente dos antigos sonhadores de um país conforme com os padrões democráticos ocidentais.
E não só em Bagdad. Também no Cairo, quando encheram a Praça Tahrir e não tardaram a ver a partida de Mubarak transformada no sucesso dos islamitas radicais. Ou em Alepo, quando se julgaram com capacidade para enviar Assad para Moscovo e afinal abriram as portas a todas as formas mais extremistas de impor a religião.
Desde sempre que defendi a vantagem de apoiar regimes autoritários, mas radicalmente laicos, mesmo que à custa da repressão de quantos ali apostam na conjugação de religião com exercício do poder.
Por muito que os meios de informação ocidentais teçam de Assad a imagem de cruel ditador, prefiro-o mil vezes aos seus opositores cujas práticas assassinas conseguem ser bastante mais repugnantes.
E não me falem de uma suposta oposição democrática - aquela mirifica corte de oportunistas que também estiveram presentes no Iraque e até foram dos mais destacados denunciadores das armas de destruição maciça, que ninguém depois ali conseguiu encontrar.
Se não são os idiotas uteis, que serviriam de batedores a regimes assentes na sharia, depressa se revelariam novos ditadores a pretexto de contarem com uma oposição demasiado forte à sua fraca representatividade social apressando-se a fazer bem pior do que o odiado presidente, que tenham entretanto ajudado a derrubar.
Não espanta, pois, o que uma reportagem da BBC mostrou recentemente, quando foi à procura do homem entusiasmado há treze anos em derrubar a estátua de Saddam Hussein em Bagdad. Khadim al-Jabbouri, assim se chama, estava então esfuziante com a vitória sobre aquele que mandara executar catorze dos membros da sua família e o mantivera preso durante dois anos. Agora é um homem arrependido: é que “Saddam foi-se, mas agora temos mil Saddams.”
É mais do que evidente que, enquanto o ocidente não apostar seriamente na segregação de regimes como o qatari ou o saudita, que financiam ativamente o terrorismo islâmico, nenhum modelo ocidental conseguirá frutificar no Médio Oriente. E, mal por mal, antes ditadores laicos, que defendam a existência de outras comunidades (católicas, judaicas, etc) para além das maioritariamente muçulmanas e garantam às mulheres os direitos, que os seus detratores se apressam a recusar.
O Iraque teria ficado melhor com Saddam, a Líbia com Khadafi ou a Síria com Assad, se o Ocidente tivesse continuado a pressioná-los para um maior respeito com os direitos humanos e com a sua efetiva laicização. Para já o problema europeu com os refugiados e com a ameaça terrorista nunca teria atingido esta dimensão que, diariamente, nos inquieta.
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