Agora que os principais programas de debates políticos entraram em férias de verão é curioso assinalar, de entre tantos opinadores da nossa realidade, a evolução recente do pensamento de Pacheco Pereira. Questão não despicienda, porque apesar de se situar ideologicamente à direita, ele tem capacidades intelectuais muito acima da média dos que costumam ocupar tempo de antena nas nossas televisões, razão porque uma mudança como a verificada ganha outro sentido.
É que, durante meses a fio, ele apostou em como a União Europeia nunca perderia uma oportunidade para sabotar os esforços do governo português em demonstrar a eficácia de uma política alternativa à da austeridade, criando as condições para, mais tarde ou mais cedo, concretizar o fim da Geringonça.
Ora a forma como António Costa geriu este dossier das possíveis sanções, angariando apoios importantes, que permitissem retirar o país do isolamento também sentido pela Grécia de Tsipras, quando sofrera ataque similar, constituiu para Pacheco Pereira o sinal de algo a mudar nos paradigmas dominantes até aqui.
É verdade que começam a ser cada vez mais frequentes os relatórios e as declarações de gente insuspeita sobre o fracasso das receitas austeritárias e dos efeitos perversos por elas suscitadas no conjunto da economia europeia. Algo com que Tsipras não pôde contar apesar de não ser muito diferente o que então dizia Varoufakis em relação ao que se escreve no relatório independente recentemente conhecido por quem avalia, a seu pedido, a estratégia do FMI. Mas a superioridade de um verdadeiro líder está em analisar as suas forças e fraquezas a cada momento e potenciar as primeiras em detrimento das segundas, criando as condições mais consentâneas com o que verdadeiramente pretende.
O que distingue Costa de Passos Coelho é que onde este último sentia a crise como fatalismo aquele vê a oportunidade para dela sair, avançando com novos rumos, Porque porfiar no que está comprovadamente errado, como se pudesse conduzir à redenção salvadora, só mostra incompetência senão mesmo estupidez. E o ainda líder da Oposição vai demonstrando dia-a-dia a indigência da sua análise do passado e do presente e a incapacidade de vislumbrar qualquer Visão de futuro no nevoeiro cerrado, que lhe ocupa a mente. Pelo contrário António Costa revela a audácia de pensar diferente, de encontrar soluções inovadoras e de negocia-las atempadamente com quem o poderá ajudar a concretizá-las. Nesse sentido, e por muito que custe a Clara Ferreira Alves, que ainda não conseguiu engolir o despeito de ter errado em todas as “leituras” que fizera sobre o desempenho de António Costa desde que se tornou no secretário-geral do Partido Socialista, ele nada tem de meramente tático, revelando-se continuamente como o grande estratega que conseguirá retirar o país da beira do abismo para onde a direita o empurrou nos últimos cinco anos.
Por isso mesmo faz sentido a evolução do pensamento de Pacheco Pereira que se vai livrando do seu justificado pessimismo para começar a sentir o contágio do tal otimismo, que se associa aos sucessos que o governo vai conseguindo. Cá dentro e lá fora.
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