A longa entrevista do ministro da Cultura na edição dominical do «Público» confirma o acerto de António Costa ao convidar o diplomata Luís Filipe Castro Mendes para essas funções. Muito sereno e sem nunca encontrar no exíguo orçamento do setor a desculpa para não fazer mais, dá respostas assertivas para o que vai fazer às coleções de quadros de Miró, de Berardo, da SEC ou de Jorge Brito, mantendo-as disponíveis para os portugueses. E a todas as questões respondeu com a sua condição de facilitador de soluções e não propriamente de criador de ainda maiores problemas.
Está definitivamente virada a página aos quatro anos tenebrosos em que Passos Coelho lembrava o sinistro general espanhol que, na Guerra Civil, ameaçava empunhar as pistolas sempre que lhe falassem de cultura. Com o anterior primeiro-ministro não era assim, mas a ordem imediata era vender a qualquer preço, e independentemente do que defendiam os diretamente interessados. Foi por uma unha negra que o país não perdeu os quadros resgatados da falência do BPN ou os seis da autoria de Maria Helena Vieira da Silva, que têm estado expostos na Fundação dedicada às obras dela e de Arpad Szenes.
Aqui e além as entrevistadoras procuraram enlear o ministro com as suas perguntas capciosas - merece o nome de Ministério o que ainda tem menos verba do que a Secretaria de Estado a que sucedeu?, foi só um exemplo - mas ele não se deixou perturbar: faz toda a diferença ter ou não ter a Cultura à mesa do Conselho de Ministros e integrar um elenco governativo onde deverá ser unanime a opinião da exiguidade do orçamento destinado a tão estruturante setor do conhecimento. Assim dure esta maioria parlamentar e decerto melhores dias se avizinham para um setor que a direita destratou inqualificavelmente para vergonha de quem aceitou servir-lhe de caução: Francisco José Viegas e Barreto Xavier…
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