Portugal é hoje o campo de batalha de uma luta europeia. Este é o título do artigo de leitura obrigatória que Ricardo Paes Mamede publicou hoje no site «Ladrões de Bicicletas».
Com a racionalidade e a argucia, que lhe conhecemos ele desvaloriza a mesquinhez ou o preconceito ideológico como sendo os que justificam as declarações recentes de Schäuble e outros cortesãos da sua alcova.
O que está em causa é uma estratégia ambiciosa de retirar espaço às decisões soberanas de cada nação em áreas, que lhe são muito queridas - desde a Segurança Social à legislação laboral - de modo a tornar toda a União Europeia num todo dirigido a partir de Bruxelas e onde as empresas, sobretudo as alemãs, ganhem economias de escala para melhor competirem com as americanas ou as asiáticas.
Ora, porque os maiores entraves a esse projeto residem em França ou em Itália, os seus mentores poupam-nos momentaneamente preferindo ataca-los no elo mais fraco, que somos nós, os portugueses. Com isso pretendem sinalizar aos investidores internacionais quem, efetivamente manda em Portugal e os riscos em que incorrem se apostarem em quem se desviar um milímetro, que seja do script congeminado.
Mamede não o refere no seu texto mas, por muito que os principais rostos do Brexit já tenham abandonado o barco, porventura temerosos de se verem responsabilizados pelos efeitos da porta que abriram, e a provável primeira-ministra Theresa May ensaie a reversão do decidido no referendo, os conspiradores farão tudo por a rejeitar, porque o sucesso da estratégia reside em nações dispostas a renderem-se-lhes, de preferência com governantes sem coluna vertebral como Passos Coelho e Assunção Cristas revelaram ser. Muito embora o atual governo grego também lhes sirva de exemplo para demonstrarem que, sejam eles de esquerda ou direita, os responsáveis políticos de cada país não terão outra alternativa senão a submissão incondicional.
Há, ainda assim, algo que a História - nomeadamente a do seu próprio país! - deveria ter ensinado a Schäuble: a radicalização no sentido de impor uma visão alucinada de um futuro, contra a própria vontade dos povos apenas entendidos como peões desarmados num tabuleiro já muito desarrumado, resulta sempre em derrotas humilhantes. Até o mais desastrado iniciado nas lides do xadrez sabe que os peões, quando chegam à outra ponta do tabuleiro, são capazes de se converterem em peças letais, capazes de derrotarem quem os menorizava anteriormente.
O problema é que António Costa já conta com condicionalismos demasiados para ainda ter de se sobrecarregar com inimigos externos aparentemente dotados de forças exageradas e com a assumida traição aos portugueses, que os dois partidos de direita tão prestimosamente estão a personificar, mostrando que subsistem uns quantos miguéis de vasconcelos a merecerem ser atirados pela janela...
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