Há partidos e movimentos sociais que, mesmo jamais passando pela minha cabeça, a possibilidade de neles militar ou sequer votar, são bastante úteis por quanto influenciam as sociedades a evoluir numa ou noutra direção.
É o que se passa com o PAN, partido representado na Assembleia, e que é algumas vezes legitimamente criticado pela forma porventura exagerada como pretende defender os direitos dos animais.
Posso não concordar com algumas das suas propostas, mas quando se trata de proibir as touradas e outros espetáculos tauromáticos ou impedir os circos de continuar a recorrer a animais, estou totalmente de acordo com eles. É que as nossas sociedades andam a evoluir num sentido em que o respeito pelos seres vivos, independentemente de se tratarem ou não de mamíferos, vai crescendo muito salutarmente, mas sem alcançar a eficacidade de quebrar a tendência para a extinção contínua e ininterrupta de mais e mais espécies selvagens.
Às vezes podemos ser chamados à realidade, quando nos comprazemos com uma perspetiva muito idealizada do que ela é e, hoje, num documentário sobre a leoa Elsa, que o casal Adamson criou no Quénia nos finais dos anos 50, um etólogo lembrava o quanto nos deixamos iludir pela imagem errada difundida por muitos dos defensores dos animais: a vida selvagem nada tem de poético, nem de belo. Os que nela procuram sobreviver estão constantemente a contas com o medo, com a angústia, com a fome. Sejam presas, sejam predadores, ou as duas coisas ao mesmo tempo. E a intervenção humana só tende a agravar esse stress, com a explosão demográfica, que se apossa de zonas outrora apenas ocupadas pelos animais, e com todo o tipo de comércio ligado a atividades ilícitas, que tende a matá-los por causa das presas ou dos troféus.
É inquietante sabermos que, em apenas 50 anos, desapareceram 90% dos leões, que então viviam em liberdade nas savanas africanas. E, por muito que os documentários da BBC ajudem a causar a indignação por essa destruição acelerada, será necessário muito mais do que estímulos mediáticos para evitar que cheguemos a um mundo em que, além dos nossos animais de companhia e dos que vivem enclausurados em jardins zoológicos, a maioria dos animais ainda hoje existentes em liberdade tornar-se-ão tão anacrónicos como o há muito desaparecido dódó.
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