1. Única e exclusiva vontade de bisbilhotar. Assim pode considerar-se a insistência do CDS em conhecer o teor da carta que António Costa terá enviado a Juncker a propósito da ameaça de sanções pendente sobre o nosso país.
Ninguém terá ensinado a Cristas e Magalhães o quanto é feio andar a espreitar para a correspondência alheia? Ou será que a falta de argumentos para criticar o governo é tão notória, que já andam a esgaravatar o caixote do lixo do primeiro-ministro na esperança de nele encontrarem algo de comprometedor?
Se o ridículo matasse, os dirigentes do CDS estariam na primeira linha para caírem que nem tordos…
2. Outra característica neste CDS é a de tomarem os outros por parvos. Nesse sentido Mota Soares distingue-se com o seu pretenso ar de seminarista, que arrisca as maiores atoardas na esperança de que nele ouçam apenas manifestações de boa-fé.
Vem isto a propósito da legislação ontem recusada na Assembleia da República em que se procurava voltar à tentativa de privatizar a Segurança Social sob a aparência de só estar a possibilitar ao cidadão o aumento da sua futura reforma com dotações complementares.
Está-se mesmo a ver o filme: se voltasse ao governo Mota Soares encontraria aí a plataforma necessária para encetar a fase seguinte do projeto da direita - o plafonamento trapaceiro.
3. A passear-se no Douro, Marcelo lá teve de corrigir o lapsus linguae da véspera quando se dissera disposto a aguentar o governo de António Costa “por mais uns tempos”.
Gente desconfiada, entre a qual me insiro, logo viu nessa frase a confirmação do que vai na alma do inquilino de Belém: vai convergindo aparentemente com António Costa enquanto não conta no PSD com quem lhe possa servir de instrumento para o seu projeto ideológico pessoal, porque assim isso suceda e tudo fará para pressionar o primeiro-ministro a dissociar-se dos parceiros à esquerda e aceitar a formação do tal centrão com que os «beaux esprits» da elite dos negócios se sentem confortáveis.
4. Esta tarde o debate sobre o estado da Nação irá permitir o terçar de argumentos em torno dos índices oficiais produzidos pelo INE e pelo Banco de Portugal. A direita verá neles o deitar a perder do seu esforço para tornar o país mais competitivo à custa do empobrecimento dos portugueses, enquanto o governo aproveitará para olhar esses números e apoiar-se neles como incentivo para o muito ainda a fazer . Nos partidos que apoiam o governo realçar-se-á a inversão no ciclo político, que marcou o aprofundamento das desigualdades entre os portugueses.
Uma vez mais será crível que, no balanço do debate, fiquemos com a noção de uma nova banhada dada por Costa à desconchavada direita.
5. Não é que o Relatório Chilcot constitua uma novidade mas, na forma exaustiva como analisou todas as circunstâncias que estiveram na origem da invasão do Iraque, dá argumentos acrescidos a quem acredita na urgência de levar Blair, Bush, e já agora, Aznar e Durão Barroso ao Tribunal Internacional de Haia para serem julgados como criminosos de guerra. O número de mortos que a intenção belicista do Pentágono, secundada pelos cúmplices europeus, provocou então, e ainda continuará a causar nas violentas sequelas que dela decorrem, atinge dimensões comparáveis às dos mais terríveis conflitos do século XX.
A culpa, como diz o provérbio, não pode morrer solteira, nem ficar-se, como o pretende David Cameron, como lição para o futuro!
Sem comentários:
Enviar um comentário