A edição semanal do «Expresso» ganhou bastante com a inserção da coluna de opinião de Pedro Santos Guerreiro na segunda página do seu Primeiro Caderno. É que, se não fossem as opiniões por ele emitidas, associadas às de Pedro Adão e Silva ou de Daniel Oliveira (as de Miguel Sousa Tavares e de Fernando Madrinha têm dias!) imperaria um tipo de argumentação demasiado conotado com o governo de passos coelho.
Desta feita, no texto intitulado «As Malabarices de Passos», o antigo diretor do «Jornal de Negócios» conclui que «se o Passos de 2011 encontrasse o Passos de 2014, arrasava-o». Só não diz o que se tornou evidente para os muitos incautos, que acreditaram nas narrativas anti-Sócrates e deram o seu voto a quem lhes prometia não roubar nas pensões, nos ordenados, nos subsídios ou no próprio direito ao trabalho.
Quantos votantes no PSD foram professores ou outros funcionários públicos, que se tornaram entretanto desempregados de longa duração ou tiveram de recorrer à emigração para encontrarem meios de sobrevivência? Quantos reformados votaram no PSD (ou já agora no seu autodesignado provedor portas) e viram-se espoliados de significativas parcelas dos seus rendimentos tidos então como intocáveis?
Hoje passos coelho só consegue ainda aguentar-se no seu discurso falacioso porque não tem quem, enquanto líder da Oposição, o confronte seriamente com as malabarices de que fala Pedro Santos Guerreiro. Porque, sempre que conseguiu tempo de antena durante este sábado televisivo, António José Seguro não mais disse do que banalidades sobre o salário mínimo, o orçamento retificativo ou a privatização da TAP.
Olhámo-lo com a comiseração de quem ainda esbraceja para parecer figura importante, mas já as palavras sem outro sentido do que a mais veemente sensaboria, traem a íntima convicção de nadar contra uma maré que se apresta a engoli-lo.
Pelo contrário, Pedro Santos Guerreiro diz seis evidências sobre o orçamento retificativo apresentado por maria luís albuquerque, que ganhariam ainda maior projeção se fossem precisamente ditas por quem deveria liderar a Oposição:
· que ele é a confissão sobre o fracasso no equilíbrio das contas públicas, porquanto reconhece a derrapagem de 1,5 mil milhões de euros na despesa;
· que essa derrapagem apenas em menos de metade se deve à reposição dos cortes de salários imposta pelo Tribunal Constitucional, por muito que se lhe queiram atribuir todas as responsabilidade por ela;
· que existe um fingimento ao soltarem-se foguetes com o aumento da receita fiscal, avaliada em mais 1,2 mil milhões de euros. Por isso mesmo quando andou a perdurar a possibilidade de se subirem os impostos alimentava-se uma falácia, porque, de facto, eles já aumentaram e muito;
· que depois de tanto autoelogio em torno do milagre da multiplicação das exportações e da contenção nas importações, a realidade sobrepõe-se à ficção:, já que “estamos de novo à beira do défice externo”;
· que a dívida pública continua a ser revista sempre em alta ultrapassando agora a barreira dos 130%
· que dois em cada três contratações das empresas estão a ser subsidiadas pelo Estado, não constituindo verdadeiramente empregos dignos desse nome. “Se fosse com Sócrates, o PSD diria que o Governo anda a comprar empregos»;
Em síntese, Pedro Santos Guerreiro reconhece que “a saída da troika devia ser o fim do inferno, mas desde então o que aconteceu foi o colapso de um dos nossos maiores bancos e a derrapagem da despesa do Estado”.