Existe sério risco de os portugueses se terem habituado a tão invariável sucessão de notícias sobre os méritos da governação socialista à luz dos indicadores - sempre muito positivos! - emitidos pelas mais variadas e insuspeitas instituições, que lá virá o dia do surgimento de algum menos bom, passível de, então, ser utilizado pelas direitas, e seus altifalantes, como questão quase catastrófica.
Vem isto a propósito de mais uma evidência dessa qualidade governativa: como resultado das medidas tomadas em sua intenção a taxa de pobreza e exclusão em Portugal baixou finalmente para nível inferior ao da média da União Europeia. Depois de quatro anos dedicados por Passos Coelho & Cª a empobrecerem uma parcela significativa de portugueses, o governo de maioria parlamentar da legislatura agora concluída infletiu essa queda no abismo com eficiente determinação.
Há, porém, quem se revele inconformado com tal evolução: mostrando não ter cabimento no Partido de que foi influente dirigente, Francisco Assis decidiu prosseguir na deriva para as direitas, onde possa ser acolhido de braços abertos. Numa lamentável entrevista à Renascença não só menorizou a vitória de António Costa há quatro anos - considerando a dita «Geringonça» apenas como solução de recurso para escamotear a derrota que ele tanto desejara! - e junta-se aos profetas da desgraça dando como tempo limite de vida deste governo os dois anos. Triste é o que se pode sentir ao lerem-se tais desaforos!
Podemos conjeturar o que possa ter sucedido com a cabeça de Assis para tomar tão teimosa escusa à interpretação racional da realidade, mas uma causa poderemos ilibar: a da poluição que terá causado a morte prematura de seis mil portugueses em 2016 devido em grande parte ao tráfego rodoviário. Ora, como ele se encontrava então a recato de tão inquietante ameaça na sinecura europeia proporcionada pelo Partido, que agora parece enjeitar em definitivo, outras razões servirão de explicação.
Acontece que, se uns descem para as catacumbas da irrelevância, outros sobem e bem alto: as notícias dão agora conta do aumento da influência de Pedro Nuno Santos que vê o seu ministério ampliar-se com a responsabilização da área dos portos e dos transportes marítimos. Serão lautos milhões do orçamento de Estado para gerir e rentabilizar de forma otimizada, tornando-o no protagonista de uma das mais importantes vertentes de sucesso do governo nos próximos quatro anos: os investimentos nas infraestruturas. Mas, inteligente como é, António Costa igualmente atribui a Pedro Nuno Santos a tutela sobre algumas das classes profissionais mais reivindicativas e com as quais importa potenciar os reconhecidos dotes negociais do ministro.
Abrem-se, pois, bons augúrios para o novo governo.
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