Os mercados financeiros não se enganam: podem antipatizar com o ideário de certas forças políticas, mas se elas garantem estabilidade acabam por vender a alma ao diabo e agir em conformidade. Não se estranha, pois, que, na sequência dos resultados eleitorais deste fim de semana o rating dos juros da dívida portuguesa voltassem a baixar, conseguindo até a rara proeza de se tornarem mais baixos do que os da Espanha no prazo a dez anos. Em questão acautelarem o dinheiro os que vivem dos investimentos financeiros acorrem aonde o sabem mais seguro. E a lei da oferta e procura explica esta conjuntura, que a República pode aproveitar para mais facilmente alcançar o objetivo de baixar a dívida abaixo do patamar de 100% do PIB.
Bem podem as aves agoirentas do comentário político fazer figas por instabilidade política na próxima legislatura que não haverá como imaginar a repetição da coligação negativa de todas as demais formações políticas no Parlamento para derrubarem o governo socialista. Melhor valerá a oportunidade para que bloquistas e comunistas se associem aos progressos implementados pelo governo de modo a replicarem a possibilidade de se incluírem na fotografia, quando se reivindicar a paternidade sobre as medidas mais populares.
Por estes dias as notícias tenderão a privilegiar os urubus, que andam a sobrevoar a sede do PSD na Lapa a pretexto da morte política de Rui Rio. Este já está a colher os «dividendos» de, na noite eleitoral, apontar a SIC como uma das responsáveis pela derrota, tendo agora o canal de Balsemão ainda mais empenhado em apressar-lhe o óbito. Não terá sido por acaso que um desses necrófagos - Luís Montenegro - tenha escolhido o canal de Carnaxide para se fazer comensal de uma festa para a qual ainda não foi marcada data nem enviados os convites.
Uma vez mais o sentido de oportunidade do lugar-tenente de Passos Coelho volta a estar em causa tendo em conta a composição do grupo parlamentar com que poderá contar acaso venha a ser escolhido. Mas como já se percebeu a sua vocação de lebre para láparo mais atinado a coisa poderá fazer algum sentido. Sobretudo se as autárquicas de 2021 significarem uma derrota calamitosa, que ponha o universo laranja a ansiar pelo regresso de um desaparecido Sebastião.
Curiosa também não deixou de ser o ressurgimento do engolidor de fatias de bolo-rei: ninguém lhe pediu a opinião mas, doidinho por se pôr em bicos dos pés, lá enviou uma verborreia para a Lusa onde quis ressuscitar outra assombração entretanto devolvida a merecido anonimato. Mais um bocadinho e reclamava o regresso do Gaspar que deverá ser um dos «ases» do FMI implicados nos «bons conselhos» a países latino-americanos subitamente à beira da bancarrota: primeiro na Argentina, agora no Equador, a revolta popular desmente os apressados, que tinham proclamado a morte das esquerdas na América Latina. É que não há quem aguente com as receitas de austeridade impostas a partir de Washington D.C.
Na mesma cidade Trump vai-se enleando no seu labirinto ao impedir os colaboradores de o desmascararem no Congresso. Anonimamente alguns vão denunciando o clima de paranoia dentro da Casa Branca com ameaça ao uso intensivo de polígrafos para testar a lealdade dos que o pato-bravo anda a duvidar. E as sondagens vão denunciando uma percentagem maioritária de eleitores a exigirem que a investigação vá por diante aclarando se ele cometeu ou não atos criminosos. No «Público» Nuno Severiano Teixeira explica “porque é que, antes, dois anos de investigação e milhares de páginas do relatório Mueller não resultaram em nada e agora um simples telefonema entre Trump e o Presidente ucraniano provocou de imediato a abertura do inquérito. (...) Porque, no caso da Rússia, Trump não era o protagonista. E agora no caso da Ucrânia é ele o centro da operação.” E, segundo a legislação norte-americana “usar um instrumento da política externa do Estado em proveito pessoal na luta política interna (...) é um abuso de poder e uma violação grave do Estado de direito com consequências sobre a segurança nacional.”
E conclua-se o dia com o seu bom amigo Boris Johnson também a contas com a inconsequência da sua estratégia. Agora quis culpar Angela Merkel pelos seus dissabores o que só lhe serviu para comentários azedos, oriundos quer de Berlim, quer da própria Comissão Europeia.
Como diria Galileu, o mundo está mesmo a mover-se e não é na direção para que ansiavam os que, ainda há pouco, eram tidos como incontornáveis vencedores.
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