terça-feira, 8 de outubro de 2019

E não é que ainda andam por aí uns profetas do diabo?


Há quatro anos um sujeito de que já nem sequer o nome lhe lembramos (como é que, de facto, se chamava?) andou a acenar com o Diabo. Cedo ele viria dar-lhe amanhãs cantantes, acabando rapidamente com a convergência de esquerda em que não quisera acreditar. Era coisa de semanas até os recém-empossados ministros atirarem a toalha ao chão e o fiel amigo - não da Terra Nova ou da Noruega, mas de Boliqueime! -, convoca-lo, qual filho pródigo, para continuar com as privatizações interrompidas e os bons negócios garantidos para os amigos e conhecidos dos colégios, das clínicas ou dos hospitais privados.
O resultado foi o que se viu: o obstinado cábula teve de vestir dragonas de catedrático e o frustrado cúmplice foi comer bolo-rei para outra freguesia.
Consumada nova eleição legislativa e derrotadas as direitas em toda a linha - correspondem a apenas 1/3 dos votos depositados nas urnas! - outros seguidores do tal falso profeta mostram nada terem aprendido com tão explicita lição. Desde a noite de domingo é vê-los a prognosticar um governo que não se aguentará dois anos, porque nenhum dos parceiros da anterior maioria quererá arriscar nova convergência. Os iludidos opinadores enganam-se com a duração da travessia do deserto de quem esperavam vir a ser o novo Messias dos seus preconceitos e valores. Porque de Montenegro a Almeida, sem esquecer o esgazeado e assustador psicopata liberal, mais não serão, que figurantes de uma narrativa, que lhes passará inevitavelmente ao lado.
Azar deles! Não é só a História recente a desmenti-los! Porque maior é a capacidade negocial de António Costa (e já agora de Pedro Nuno Santos!) para abrir janelas onde eventuais portas ameacem fechar-se. Cá por mim bem podem os anunciadores de tempestades esperar sentados, que arriscam-se a criarem longuíssimas raízes. Tanto mais que, no Bloco ou na CDU, não se ignoram os custos de pôr em causa uma estabilidade política, que o eleitorado tanto mostrou prezar com a forma como votou. E, para dizer a verdade toda, se nas demais esquerdas pretendem-se melhores serviços públicos na Saúde, na Educação, na Habitação e no conjunto da Administração Pública, essa mesma vontade está sedeada no governo apenas com a ressalva de se darem passos firmes em terreno sólido, sem arriscar saltos exagerados, que possam precipitar inoportunos desequilíbrios.
Dois dias depois das eleições só vejo razões para reiterar a confiança em António Costa e na sua equipa de ministros e secretários de estado, ciente de continuarmos a usufruir de condições políticas otimizadas mesmo perante as ameaças que a recessão alemã, as trumpices ou as johnsonsices pressuponham. Porque perante estas últimas melhor valerá ter a contrariá-las quem sabe como contorná-las do que gente, entre o incompetente e o amalucado, cujos danos na nossa tranquila quotidianidade poderiam ser calamitosos.

Sem comentários:

Enviar um comentário