quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Falsos sebastiões e novos profetas do tal Diabo



O outono ainda nem a meio chegou e, mesmo sem nevoeiros dignos de nota, já alguns falsos sebastiões aparecem a proclamar legitimidades como se acabados de desembarcar de Alcácer-Quibir. Quem antecipasse algum comedimento dos donos do Pingo Doce depois da morte do seu execrável patriarca, a resposta consubstanciou-se na convocação do beócio Crato para gastar vinte milhões de euros num confuso programa para a deseducação das nossas criancinhas. Derrotado no modelo antipedagógico, que procurou aplicar enquanto foi ministro de Passos Coelho, o Crato e os seus patrões não desistiram de o levar por diante, por ser aquele que melhor se adequaria aos seus objetivos ultraconservadores. Quando julgávamos o Crato já morto e enterrado qual menino de sua mãe (capitalista) ei-lo todo pimpão a dizer-se presente numa realidade para que o julgávamos definitivamente remetido para o mui conhecido caixote do lixo.
A CIP cuidou de convidar Durão Barroso, outro poltrão, armado em neoprofeta de um capitalismo aceitável, quiçá ainda alimentando a esperança de, depois de tanto ter contribuído para o crepúsculo da União Europeia, ao torná-la subserviente pajem dos oligopólios financeiros (um dos quais lhe paga agora o lauto ordenado!), ainda pretenda aspirar à sucessão de Marcelo. Não é hipótese fora do baralho: veremos os patrões da CIP e das demais confederações patronais a promoverem este convidado através dos seus jornais, rádios e televisões para que, depois da múmia de Boliqueime e do selfieman, tenhamos que gramar com o arrependido do maoísmo rapidamente reciclado no mais fanático dos neoliberais?  Vade retro!
Igualmente convocado para essa farra patronal, travestida em forma de «Congresso», Marcelo deve ter-se visto às aranhas para dizer alguma coisa, que lhe valesse alguma atenção na comunicação social, já que a irrelevância da função tem-se avolumado nos meses mais recentes. Vai daí, e porque ouviu essa coisa bizarra de associar capitalismo e mudança de alguma coisa (para que tudo fique na mesma, acrescentaria o príncipe Salina de «O Leopardo»), resolveu resgatar das calendas o discurso do Diabo, mesmo dando-lhe aparência um bocadinho diferente. Mas as foram as de atrás de tempos, tempos vêm, piores tempos hão-de-vir. E assim se vê que o inquilino de Belém só consegue ser igual a si mesmo: por muito que quisesse vestir outra capa é a do filho e afilhado de quem é, que acaba por vir inevitavelmente à superfície.

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