segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Uma vitória indiscutível contra o trogloditismo à direita


A grande vitória eleitoral do Partido Socialista dá-me a satisfação de ver consolidada a maioria parlamentar, que garantiu a estabilidade política dos últimos  quatro anos e a melhoria significativa da qualidade de vida de uma grande maioria de portugueses. Ademais, vê-se complementada pela entrada da deputada do Livre no Parlamento, que também contará para as contas com que se garantirão as aprovações dos próximos quatro Orçamentos Gerais do Estado.
À segunda vez que se candidatou às legislativas na liderança do Partido Socialista, António Costa ainda não conseguiu replicar a dimensão obtida quando assumiu essa reedição nas autárquicas em Lisboa, mas a progressão é inegável e em vias de prosseguir no seu crescimento. Não só porque estão lançadas as bases para prosseguir o cumprimento da Agenda para a Década apresentado há quatro anos, mas sobretudo se houver maior capacidade em matar à nascença os abortos em forma de fake news e em deturpações da verdade dos factos, que as direitas sempre procurarão aproveitar em seu favor, como sucedeu agora com a história de Tancos ou as supostas férias quando lavrava o incêndio de Pedrógão. Se lição haverá a retirar desta campanha é a urgente formação de uma central de contrapropaganda, lesta a responder às falcatruas desinformativas de um inimigo, que outra estratégia não tem para pôr em causa a governação socialista.
Merecia António Costa mais? Claro que merecia pelos excelentes resultados obtidos desde 2015. Mas maior injustiça terá sofrido a CDU ao perder cinco dos dezassete deputados, devido à incapacidade em renovar o discurso político e cativar eleitores mais jovens. Ainda assim Jerónimo de Sousa reconheceu durante a campanha uma alteração, que poderá significar a garantia de futuro para o PCP: a integração na maioria parlamentar agora chegada ao fim do mandato permitiu reduzir a quase nada as bem conhecidas atitudes anticomunistas de muitos portugueses com que costumava cruzar-se na rua. Sendo aceite como um partido normal, igual a todos os outros, os comunistas deixaram de ser vistos como os comedores de criancinhas ou os perpetradores da suposta injeção atrás da orelha. Importa que se façam ouvir por um tipo de eleitorado, que nele se fixe porque, de contrário e a exemplo do sucedido por essa Europa fora, pode transitar paradoxalmente para a extrema-direita.
Se lamento a penalização a que foi sujeita essa bancada da CDU, considero justa o desmentido crescimento do Bloco, que acabou por ficar com o mesmo número de deputados. De uma forma quase tão explicita quanto tem acontecido em Espanha com o Podemos, o partido de Catarina Martins parece inconformado com a sua relativa pequenez e mostra-se desejoso de crescer à custa do PS de forma a ver-se aceite como parceiro de governo. A expressão desalentada de Marisa Matias ao fim da noite denunciava a aceitação resignada de um adiamento inevitável do cenário, que o pensamento mágico dos bloquistas prefigurara como possível.
À direita constitui motivo de gáudio a humilhação com que Assunção Cristas se viu obrigada a abandonar a política ativa. Para quem já se julgava próxima do cargo de primeira-ministra o banho de realidade terá sido singularmente violento. Se aqui prognosticara para o CDS a redução ao nível de partido do monovolume, as eleições atribuíram-lhe mesmo a dimensão do táxi.
Rui Rio produziu um discurso incrivelmente mau, disparando contra a SIC, as sondagens e os inimigos internos como responsáveis pela derrota histórica, que procurou minimizar ao melhor estilo do futebolista, cujo clube leva uma cabazada, mas de que só realça as bolas que passaram a menos de dez metros da baliza ou a falsa equidade do árbitro e dos fiscais-de-linha. Se, enquanto autarca do Porto, já lhe conhecêramos comportamentos indignos, como líder do PSD vai abundando em exibições do que de pior tem o seu carácter. Do qual pouco se pode relevar como frequentável. Estes últimos quinze dias revelaram uma (falta de) personalidade muito pior do que imagináramos possível.
Quanto ao PAN, e aos quatro deputados com que passa a contar, também nada de bom há a assinalar. André Silva já começa a denotar a arrogância de quem tem valido nada e se julga a valer muito, mostrando ser uma coisa híbrida, que não sabe - nem quer saber! - se é de direita ou de esquerda, o que, à la longue, acabará por significar o pendor para o primeiro daqueles lados. Continuando a valer pouco mais do que um grupúsculo o PAN inquieta porque, fanatizados nas suas proibições, os seus militantes e simpatizantes tendem a ser os schutzstaffel do gauleiter Silva.
O mesmo fanatismo pode esperar-se dos deputados da Iniciativa Liberal e do Chega, com o primeiro a defender o Estado reduzido a zero e o segundo todos os preconceitos que derem jeito ao seu populismo para trogloditas. Aconselha-se o seu acantonamento num cantinho do hemiciclo onde os açaimes e as trelas estejam sempre disponíveis, tão vidrados ambos se mostram na raiva anti-esquerda, que lhes perspetiva epiléticos ataques de ignomínia palavrosa.
Se há algo que me causa alguma desilusão nos resultados de ontem é existirem compatriotas em número suficiente para garantirem assento parlamentar ao Cotrim e ao Ventura.
O Karl Valentin costumava ter uma pergunta lapidar para sugerir como enfrentá-los mas, hélas!, é solução manifestamente impraticável...

Sem comentários:

Enviar um comentário