quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Há mais marés que iludidos marinheiros


Olhando para a sondagem da Católica os opinadores das direitas e a corte de Marcelo em Belém quase fizeram saltar as rolhas das garrafas de espumante tão animados ficaram com previsões que levaram os responsáveis da edição de hoje do «Público» a proclamarem em grande título de primeira página que “PSD ganha fôlego e fica a 7% do PS na reta final da campanha” deixando implícita a esperança de Rio ainda alcançar um brilharete.
Oh pobres iludidos com tão vãs esperanças! Nem sequer reparam que a auscultação estatística em causa foi feita no auge da exploração do caso Tancos, dando a tracking poll da Pitagórica o sinal do expectável refluxo da maré com o PS novamente a distanciar-se do PSD. É que o uso e abuso da mina armadilhada pelos três procuradores do ministério público para explodir nesta altura terá tido o condão de estoirar antes do tempo, fazendo com que o eleitorado mais permeável a esse tipo de manipulações abanasse, ficando tolhido quanto ao que decidir quanto ao seu voto, mas já com a lucidez a reapossar-se-lhe  das meninges.
Dias a fio Rui Rio e Assunção Cristas quiseram que o assunto não saísse da agenda política, mas esqueceram-se da expressão popular sobre quanto mal cheira, quando algo é demais. Razão porque Rio procurou reorientar o discurso para outro disco riscado - o das ligações familiares - também ele com o prazo de validade há muito ultrapassado. Mas se os socialistas ainda não arranjaram o antídoto para contrariarem  a elucidativa coincidência dos calendários do Ministério Público com as campanhas eleitorais, na direita ainda não se aprendeu uma das grandes lições, que atravessa transversalmente várias disciplinas científicas: antes de entrar em colapso, algumas forças parecem ganhar súbito fluxo, quando o fim se anuncia. Acontece com os Rios (também com minúscula!), que aumentam de caudal antes de secarem sem remissão. E também já sucedeu com Cristas na votação excessiva conseguida nas autárquicas de há dois anos quando convenceu-se da urgência de tirar medidas para os tailleurs de primeira-ministra e, afinal, vê-se à beira de perder mais de metade do grupo parlamentar.
Faltam três dias de campanha eleitoral e cinco até ao momento de depositar os votos nas urnas: desconfio que até lá o breve foguetório propiciado pelas sondagens dos últimos dias tenderá a ficar comprometido com o banho de realidade dado a Rio e a Cristas na noite de 6 de outubro.

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