Nunca olhei para Nuno Morais Sarmento como político ou comentador, que merecesse atenção mas, por uma vez, temos de lhe dar algum crédito quando, sabendo bem demais do que fala, olha para a disputa interna dentro do seu partido e compara-a à «gaiola das malucas».
Adivinham-se tempos difíceis para o maior partido da oposição: ganhando Montenegro ou Manuel Pinto Luz teremos, porventura em estilo menos boçal, o discurso que atirou Assunção Cristas para a irrelevância. Se for Rio vamos ter muito que galhofar por conta dos seus «centenos», que costumam falhar nas previsões e na álgebra elementar. Ao vencedor da pugna laranja só valerão os tais politólogos que, muito oportunamente, Francisco Assis qualificou de «astrólogos sem imaginação».
Contrariando a inquietação de alguns amigos, que levam a sério quem anuncia a crise para daqui a dois anos, aposto num novo governo para a legislatura. Afinal, quatro anos atrás, as mesmas vozes agoirentas davam quatro meses de duração ao que designavam como geringonça. Convenhamos que se revelam agora mais prudentes tanto mais que dois estudos anunciados quase ao mesmo tempo - o dos economistas da Universidade Católica e o do Banco de Portugal - confirmam um crescimento de mais de 2% do PIB para o ano em curso, ou seja praticamente o dobro do conseguido pela média da União Europeia. E o excedente orçamental está praticamente garantido no mesmo exercício orçamental.
Prudência também foi o que manifestou o PCP, através de Jerónimo de Sousa, apressado em corrigir a aparente desafetação da convergência anterior tal qual fora lida nas declarações pós-eleitorais. Quem já salivava perante a possibilidade de ver os comunistas juntarem-se às direitas no fogo cruzado sobre o governo, teve de refrear a expetativa porque eles parecem ter caído em si e chegado à mesma conclusão que o antigo militante Cipriano Justo: “Basta (...) o Governo tomar como suas as propostas do PCP, em parte ou na sua totalidade, para ser ele a obter o respetivo retorno político. Não há que fugir desta realidade: é quem aplica e executa as medidas que obtém o apoio popular, no caso de corresponderem aos seus anseios. Ao fim de 45 anos de regime democrático e depois de várias dezenas de eleições, já não basta ter boas propostas, é indispensável estar-se em condições de as poder concretizar.”
Para corroborar a justificada confiança dos eleitores, que lhe deram a vitória no domingo transato, o Partido Socialista só deve sopesar os danos suscitados por algumas escolhas polémicas como é exemplo Paulo Macedo na Caixa Geral de Depósitos: é que as novas taxas aplicadas sobre as contas dos menos abonados e as concomitantes isenções para os mais ricos é o exato contrário do que pode esperar-se de quem responde à tutela de um governo socialista.
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