terça-feira, 15 de outubro de 2019

Breve Tratado de Marcelologia (3ª e última parte)


No fim-de-semana, quando as Urgências do Serviço de Pediatria no Hospital Garcia da Orta estiveram fechadas, os jornalistas precipitaram-se para Marcelo Rebelo de Sousa na primeira oportunidade tida para o contactarem, questionando-o sobre o assunto. Alguns deles já salivavam perante a hipótese de o verem a lançar combustível para uma fogueira já atiçada.
Azar deles: o entrevistado não lhes fez a vontade mostrando ter passado para uma nova fase no relacionamento com o futuro governo. Não porque o íntimo lho dite como legítimo de acordo com a vontade do eleitorado, mas porque precisa de ganhar tempo para prosseguir no objetivo denunciado pelos seus atos quando julgou possível pôr o governo em xeque, nomeadamente durante os incêndios de 2017. Por agora, ao ver António Costa reforçado politicamente com um grupo parlamentar, que lhe dará maior maleabilidade na governação dos próximos anos, Marcelo aguarda pela recomposição das direitas de forma a poder com elas contar, quando considerar oportuno um golpe passível  de ser bem sucedido.
Nos próximos meses é quase certo que Marcelo optará pelo low profil, não se atrevendo a enviar para o «Expresso» recados que possam ser lidos em São Bento como desestabilizadores. Veremos enfatizada a sua suposta doença coronária para levar algumas marcelettes a Fátima acenderem umas velas em intenção da sua boa saúde, aproveitará para se fazer encontrado com quem quiser mais abraços e selfies e prosseguirá na distribuição de discursos prolixos, mas vazios de conteúdo.
As tentativas recentes para desempenhar algum papel na recomposição do seu campo político têm-se revelado pífias: dispensou Paulo de Almeida Sande para ajudar Santana Lopes a dar fôlego à Aliança e o fracasso foi rotundo. Agora tem Pedro Duarte a secundar Luís Montenegro como candidato à sucessão de Rio e desconfio que, apesar da campanha intensa da RTP e da SIC (os outros canais confesso que nem por zapping os olho!), o resultado é capaz de também não ser o que melhor lhe convirá. Daí que Marcelo tenha de aguardar pelo que possa acontecer no próximo ano e meio para aferir se lhe convirá ou não uma recandidatura. E se circunstâncias externas vierem condicionar o sucesso da governação terá, então, uma luzinha a acenar-lhe com a possibilidade de cumprir o desígnio a que se propôs, quando se julgou o único capaz de sabotar a maioria parlamentar, afinal sólida o suficiente para aguentar toda a legislatura. Frustrada essa hipótese ficará como Vladimir e Estragão à espera de um Godot, que tardará em fazer-se aparecido.

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