À distância de muitos quilómetros de casa recebi com o maior dos contentamentos as notícias relativamente aos indicadores do 3º trimestre e às posições da Comissão Europeia a respeito da proposta de orçamento para 2017.
Nenhuma delas me surpreendeu, porque há muito adivinhava a inevitabilidade dos efeitos positivos suscitados pela devolução dos rendimentos às famílias. Keynes já criara toda uma sólida teoria económica para demonstrar ser essa a forma mais adequada para superar uma crise recessiva. Pelo contrário todos quantos apostam em receitas neoliberais estão, de facto, comprometidos com falsas soluções, que só resultam em maiores desigualdades na distribuição de rendimentos, com o empobrecimento inevitável das sociedades que nelas se arriscam.
Durante estes meses foi revoltante o contínuo bombardeamento dos colunistas do «Expresso», dos comentadores da SIC e da gentalha do «Observador» a rivalizarem entre si para melhor decidirem quem venceria a palma para o argumento intelectualmente mais desonesto contra um modelo que, asseguravam, estar condenado ao fracasso.
É por isso assaz saborosa a constatação de quão errados estavam, obrigando-se doravante a encontrarem outras estratégias para continuarem a disparar contra uma política que detestam.
Mas se, como socialista, me posso congratular com o desempenho do governo, lamento que, a nível local - pelo menos no concelho onde ainda resido - persistam as golpadas de quem esteve empenhadamente ao lado de António José Seguro contra António Costa e, agora, insiste na falta de respeito pelos militantes conotados com a atual maioria para os dissuadir de procederem à barrela tão urgente de forma a que o PS do Seixal volte a ser algo de limpo e, efetivamente, democrático.
Em vésperas de vir para a Holanda fui contactado pelo representante do Círculo de Leitores para me vir entregar a mais recente encomenda.
Gostando sempre de o espicaçar a respeito das suas opções políticas que, anteriormente, me tinham convencido da sua posição firmemente abstencionista, tive a satisfação de lhe ouvir uma confissão, que espero vir a estender-se a muitos outros dos que se lhe assemelham: não só a surpresa inesperada de ver o governo a exceder-lhe as expectativas como a possibilidade de, a assim continuar, o estimular à votação em futuras eleições.
Temos, assim, uma camada que se vem declarando descrente na política e nos políticos, e agora, finalmente, capaz de pôr em causa essa sua indiferença pelas questões da cidadania. Mas, por outro lado, continuamos a ter em muitas estruturas locais do Partido Socialista os representantes desse tempo velho em que a adesão tinha implícita a intenção de encontrar um emprego à luz da velha canção do Sérgio Godinho.
Há uns meses atrás porque não me identifico com essa forma de estar na política feita de compadrios e caciquismo, declarei-me em gozo de licença sabática na militância ativa. As notícias relativas a um suposto Plenário de Militantes convocado apenas com dois dias de antecedência para esta sexta-feira demonstra bem como persiste o tipo de jogadas em que se avisam atempadamente os que se pretendem ter presentes e se avisam à última da hora os que, na medida do possível, se pretendem ter ausentes.
Até pelos sucessos que está a ter na governação, António Costa não merece que, a nível local, continuem a haver “dirigentes”, que são a negação de tudo quanto hoje ele pretende ver associado ao que deve ser o Partido Socialista do Tempo Novo.
Picasso
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