1. Há por aí grandes apreciadores das caldeiradas na política. São aqueles que, há uns anos, andavam a querer-nos convencer que as coisas da esquerda e da direita até nem significavam nada, porque as ideologias já acabaram e tudo se resumiria à boa governança. A tal moda, aqui referenciada há dias, que apareceu a par da ascensão das ideias neoliberais.
Ontem, no «Expresso da Meia Noite» voltou a ouvir-se essa tese personificada em Trump. Com falsa candura havia quem ali afiançasse ser difícil classifica-lo politicamente à esquerda ou à direita, porque encontrar-se-iam nos seus discursos muitas contradições.
Felizmente que o painel contava com a sapiência e argúcia de Eduardo Paz Ferreira, que tratou de logo clarificar as coisas: Trump, um político sem ideologia? Um tipo que quer acabar com o sistema de saúde, que providenciou cuidados médicos a milhões de americanos deles desprovidos? Que promete reduzir significativamente os impostos para as empresas e cortar a eito nos apoios sociais? Que tem propósitos xenófobos e abertamente racistas e sexistas?
Quanto tempo os arautos das caldeiradas infetas do politicamente confuso andarão ainda a querer-nos convencer dos seus interessados conceitos? É que já é tempo de sermos menos delicados do que Paz Ferreira, tratando-os como aquilo que verdadeiramente são: mentirosos e vigaristas!
2. No «Expresso» de hoje calhou a Martim Silva escrever a coluna dos Altos e dos Baixos, enaltecendo Rui Rio e dando tratos de polé a dois ministros socialistas.
Normal, dirá quem me lê! Insatisfeitas com a prestação de Passos Coelho como líder da oposição, as direitas voltam a ver no antigo presidente da câmara do Porto o esperado messias, que as livrarão deste cenário demoníaco em que as esquerdas parecem de casamento assinado e consumado por muitos e bons anos.
Quanto a Centeno, um dos ministros contestados pelo Martim, é o normal: mesmo que politicamente vá cometendo alguns erros menores, a sua capacidade técnica é primordial para o sucesso da governação. Por isso a direita trata de o querer queimar a pretexto de tudo e mais alguma coisa. Agora é a Caixa Geral dos Depósitos, mas anteriormente eram os desvios às previsões por ele formuladas no orçamento deste ano, como se o cumprimento do défice e a desnecessidade de andar a aprovar retificativos não fosse já de si um naipe de méritos, que seriam inimagináveis nas medíocres criaturas, que o precederam no ministério.
“A cada dia que passa a posição do ministro das Finanças parece ficar mais fragilizada!” aventa o Martim. E não é difícil imaginar que, mais logo, o bruxo de Fafe acrescente o nome de Centeno aos dos ministros e secretários de Estado cuja saída do governo já anda a anunciar há meses.
3. O estudo da Eurosondagem vem confirmar o que se adivinha à nossa volta: gradualmente as esquerdas vão consolidando o seu apoio no eleitorado, enquanto a degradação do dedicado às direitas declina para níveis, que são baixos e se esperam vir a ser mais rasteiros. É que o país precisa de quem o transforme positivamente, prescindindo de quem o só andou a destruir. Que estes sinais se acentuem é só o que desejamos!
Nadir Afonso, «Lisboa»
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