quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Como somos manipulados por grandes empresas de relações públicas

O major general Carlos Branco publicou agora um livro sobre a sua experiência na guerra da ex-Jugoslávia, que vem confirmar o que, então, intuí: os croatas estavam imbuídos do rancor fascista dos seus antepassados, os Ustaše , que tinham servido de milícias ao lado das tropas nazis de ocupação durante a Segunda Guerra Mundial. Os bósnios contavam com um partido, que pretendia impor um Estado Islâmico. E, no entanto, foram os sérvios, quem se viram diabolizados numa guerra em que inocentes eram apenas os milhares de vítimas encurraladas nos jogos de poder das várias lideranças crapulosas. Se Milosevic mereceria, porventura, ser confrontado com o Tribunal Internacional desta cidade donde escrevo, também Tujman e outros criminosos aqui deveriam ter sido julgados pelos seus atos.
Então como agora continuo a defender que os sérvios só ficaram como os culpados do conflito, porque era esse o interesse das potências exteriores (Alemanha, Vaticano, Estados Unidos), que ansiavam pelo desmembramento da Jugoslávia. Continuo a ter presente a memória dos tempos em que palmilhei as ruas de Dubrovnik ainda Tito era o líder incontestado do país e nada apontava para o que viria a suceder. Respirava-se então uma atmosfera pacífica e até de liberdade sem grandes restrições.
O que virou as opiniões públicas internacionais contra os sérvios foram as poderosas agências internacionais de manipulação das informações e é isso que vemos consagrado no testemunho deste prestigiado militar português, que conheceu como poucos aquilo de que fala, como se comprova na entrevista hoje concedida ao «Diário de Notícias»: 
“Todos os grupos étnicos, ou antes, as elites, sobretudo as políticas, têm a sua quota-parte de responsabilidade no desenrolar dos acontecimentos.
Naquele conflito, como em quase todos os conflitos desta natureza, não há santos de um lado e pecadores do outro. Em última análise, cada grupo via o oponente como uma ameaça à sua sobrevivência.
A diabolização do oponente faz parte da guerra. Contudo, o que aconteceu nos Balcãs foi mais do que isso e envolveu a participação direta das grandes potências.
A tarefa estava facilitada porque os interesses de certos grupos coincidiam com os interesses das grandes potências. Por isso, tanto os croatas como os muçulmanos da Bósnia tiveram empresas de relações públicas a trabalhar para si, pagas pelos seus mentores.
O tratamento desigual dado aos diferentes grupos foi a consequência do discurso imposto pelos mais fortes na defesa dos seus patrocinados e, por conseguinte, dos próprios interesses.
É nesta lógica que se deve entender a diabolização dos sérvios. A pouca clarividência das lideranças sérvias da Croácia e da Bósnia também ajudou.” 
Zdravko Mandic


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