A propósito de Fidel de Castro andei em debate de ideias nas redes sociais com os que compraram sem espírito crítico a narrativa do “sanguinário ditador”.
“Nenhuma ditadura é boa”, afiançam, mas falam sempre de umas em detrimento de outras, completamente esquecidas da sua verbosidade pouco substantiva. Lembram a esse respeito o célebre Secretário de Estado McNamara, que de Somoza, então ditador na Nicarágua, dizia ser “um fdp, mas é o nosso fdp”.
Os mesmos que pretendem desqualificar a grandeza de Fidel são os mesmos que não se incomodam com Portas ser uma marioneta do regime angolano. Catroga um funcionário do Partido Comunista Chinês ou Durão Barroso um apaniguado dessoutra forma de ditadura que é a Goldman Sachs.
E deveremos classificar as ditaduras todas como iguais, quando umas asseguram a educação e a saúde gratuita do seu povo, enquanto outras apenas existem para satisfação da ganância dos seus tiranos?
Quem por aí andou a referir as suas visitas a Cuba como demonstrativas da sua condenação do Comandante, deveria ir a muitas das outras ilhas das Caraíbas e comparar as diferenças para pior (por conhecimento próprio salvaguardo as ainda sob a tutela colonial francesa).
É de uma indigência mental assaz preocupante assumir-se que todas as ditaduras são condenáveis. Basta-me pegar no exemplo dos ditadores laicos do Médio Oriente, em cujas sociedades as diversas comunidades religiosas viviam em harmonia (incluindo as judaicas e cristãs) e onde as mulheres tinham direitos entretanto perdidos, para concluir que, em sociedades onde a cultura e o estádio de desenvolvimento torna inviável o formalismo da Democracia, existe grande diferença entre ditadores.
Ademais, e quem disse que a Democracia existe mesmo nos seus modelos tidos como exemplares: quem consegue defender que a vida de um negro nos estados do sul dos EUA não continua a ser assombrada por opressão ditatorial? Quem diz que, no nosso querido Portugal, não existe uma ditadura na forma como as direitas predominam nos jornais e televisões, que se mantêm sempre na posse dos que ainda são sinistros donos disto tudo?
Aos meus interlocutores, que veem o mundo tão a preto-e-branco (democratas vs. ditadores) recomendo um pouco mais de sageza na formulação dos seus raciocínios. Por mim continuo a celebrar em Fidel não o que foi, mas o que poderia ter sido se as circunstâncias tivessem estado à altura dos seus primevos sonhos! Hasta sempre Comandante!
Tim O'Brien
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