1. A galeria de horrores não tem fim: cada nome acrescentado por Trump à lista dos que integrarão a sua administração tem invariavelmente um curriculum associado a expressões e comportamentos próximos das ideologias fascistas.
Se o nazismo deveria ter justificado a criação de vacinas politicas suficientemente fortes para evitar a recorrência de muitos dos seus princípios e valores, a vitória de Trump imita a de Hitler na capacidade de convencimento de eleitorados incautos quanto ao tipo de serpente que permitiu ser chocada até emergir do respetivo ovo.
Um dos mais próximos colaboradores da nova vedeta mundial dos fascistas - o genro - já disse que estranharia não vir a encarar com uma resposta violenta às políticas, que pretende ver implementadas. O que justifica o comentário de Francisco Louçã no «Público» de hoje: que se abandonem as ilusões quanto à possibilidade de ver Trump domado, porque a única solução é derrota-lo.
Teremos, pois, uma agudização séria da luta de classes à pála da mais relevante medida pretendida pelos que chegam agora ao poder: a desregulação do sistema bancário de forma a possibilitar-lhe o livre curso das suas habituais estratégias gananciosas E é essa intenção, que espelha esta nova fase do neoliberalismo encarnado nesta administração, que supostamente iria combater o sistema em que ele assentava e, afinal, o quer potenciar até aos limites da sua suposta «mão invisível».
Haverá motivos para ter medo do que irá acontecer? Decerto que sim, mas também sobra a confiança quanto à revolta dos que, tendo agora votado iludidos, continuarão a ver negada a esperança de saírem da miséria em que vivem. E pode ser poderosa a revolta dos que, a breve trecho, se sentirão enganados.
2. A respeito do texto sobre a diferença de estados de alma entre os socialistas portugueses e os franceses, o Jaime Santos veio comentar o seguinte:
Mas por cá também não há (felizmente, digo eu) Socialismo, só (infelizmente) uma Social-Democracia envergonhada, dados os compromissos europeus. E até já somos o melhor aluno, Moscovici dixit... Eu convidaria os progressistas a lerem o que diz Skidelsky de Keynes. O grande economista inglês não gostava do padrão ouro, mas também teria detestado o Estado-Providência anafado que passou a ser a norma na Europa depois da Segunda Guerra Mundial, alimentado à custa de dívida pública que requer crescimento eterno, algo que vai inclusivamente contra a própria ideia de sustentabilidade ambiental. E anda o meu caro a defender o Socialismo em versão Estatista, esquecendo a paixoneta dos marxistas-leninistas com o crescimento desenfreado... Marx, esse tinha uma visão distinta parece-me, recusando a alienação do sistema capitalista que transforma seres humanos em máquinas, veja aliás esse texto admiravelmente obscuro que é o 'Fragmento sobre as Máquinas'...
No essencial concordo com esta opinião - mormente na incompatibilidade do crescimento económico com um planeta ecologicamente sustentável! - com uma nuance: embora alguns queiram ver na política do atual governo a consagração de um modelo social-democrata, que desejariam ver ressuscitado da época dos Trinta Anos Gloriosos, ela está muito para além dele, mesmo sem se poder qualificar de socialismo. Mas este último sempre pressupôs táticas e estratégias, que correspondem a recuar sempre que aconselhável para patamares de reivindicações exequíveis em cada momento histórico, aguardando que as condições sociais e políticas permitam seguir em frente. Numas alturas justificam-se políticas frentistas com forças aparentadas, mesmo que ideologicamente diversas, noutras existem condições para avançar mais determinadamente para o objetivo de uma sociedade mais igualitária.
E, quanto ao meu suposto estatismo mantenho a convicção de que empresas como a REN, a EDP, a TAP, a GALP, os CTT e a generalidade do sistema bancário deverão integrar o Setor Empresarial do Estado.
André Masson
Sem comentários:
Enviar um comentário