1. Há três anos quando Park Geunhye venceu as eleições na Coreia do Sul, muitos dos derrotados terão sentido algo parecido com o que a maioria dos progressistas norte-americanos está a viver atualmente: como era possível que a filha do ditador Park Chung-hee tivesse sido eleita? O povo já esquecera esse sinistro político, que só o assassinato em 1979 parecia ter travado na sua sanha fascista? Ademais, em vez de lhe enjeitar a herança, Park Geunhye até se declarou dela orgulhosa.
O que resultou da sua governação? Um tal repúdio popular, que teve de se dissociar da amiga e conselheira, de quem se tornara marioneta e não consegue estancar os protestos mesmo tendo aceite a designação de um novo primeiro-ministro pela oposição. Se a luta política da oposição começara no dia seguinte à sua investidura, ela acentuou-se drasticamente nas últimas semanas com as exigências da sua demissão.
A lição aqui a tomar é simples: deixemos o tempo ser o arquiteto das mudanças, que virão. Os vencedores de hoje serão, inevitavelmente os derrotados de amanhã. E se ouve quem defendesse o avanço da História humana ao ritmo de dois passos em frente e um à retaguarda, a eleição de Trump dará ensejo a um tal recuo que, pela mesma lógica, implicarão a seguir vários passos em frente.
2. Aparentemente os romances podem nada ter a ver com o que são as atuais realidades políticas, mas quando são excelente como é o caso do segundo volume da trilogia «As Areias do Imperador» de Mia Couto, as lições estão ao virar de cada página.
Vou atualmente numa situação em que um padre branco se queixa a Katini da triste condição de ter essa cor num reino negro, quando este está quase a entrar em guerra com os colonialistas portugueses:
“-Esta é a triste lei do mundo: os que existe pela metade acabam sendo duplamente odiados.”
Ora não foi isso que aconteceu com Hillary Clinton? Supostamente defensora dos mais desfavorecidos, mas com comprometedoras ligações ao sistema financeiro, não acabou por ser odiada por uns e por outros? Ao contrário de Trump que, nunca se dissociando da condição de milionário, acabou por merecer o favor de ricos e pobres?
Trata-se da velha questão de termos de optar: ou pertencemos a um lado da trincheira ou a outro. Quando queremos ter um pé em cada uma delas o resultado acaba sempre por ser deplorável. E isso é o que tem acontecido à generalidade dos partidos socialistas e sociais-democratas a nível europeu. De uma vez por todas ou querem continuar a servir de muleta dos defensores dos mercados ou decidem virar-se contra eles. É que os eleitorados não estão a transigir com as meias-tintas.
3. Noutra área cultural, a do cinema, encontro um ditado chinês bastante adequada aos tempos atuais: perante a tempestade, o pessimista reclama do vento, o otimista espera que ele mude e o realista ajusta as velas.
Cabe-nos, pois, seguir o comportamento destes últimos e, perante as circunstâncias, aferíramos as nossas estratégias.
Lim Cheol Hee
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