1. Os próximos anos vão-nos obrigar a acompanhar mais atentamente a política interna norte-americana do que o fizemos naqueles em que Obama nos sossegava, apesar de o sabermos apenas capaz de «mais do mesmo». Agora com Trump as coisas fiarão mais fino, tão igual a si mesmo continua na imprevisibilidade de conseguir ir dizendo uma coisa e o seu contrário, muito embora as nomeações para a sua Administração pendam todas para a mesma direção.
Compreendem-se, por agora, as contradições dentro do Partido Democrata, ainda incapaz de definir uma estratégia para fazer oposição, tanto mais que falta clarificar quem o liderará a breve trecho: se os do establishment, que foram os responsáveis pelas derrotas de 8 de novembro, se os da sua ala mais à esquerda, personificada em Bernie Sanders e Elizabeth Warren, que o querem transformar à luz das lições aprendidas tão recentemente.
No seu site, o ex-senador do Vermont faz o retrato sociológico, que explica o sucedido: “As pessoas estão cansadas de trabalharem mais horas por menos, de verem postos de trabalho a irem para a China, de multimilionários que não pagam impostos federais e de não conseguirem pagar uma educação superior aos seus filhos — tudo isto enquanto os muito ricos ficam muito mais ricos”. Mas ele faz-se demasiado otimista quanto à possibilidade de Trump vir a aprovar políticas que melhorem as vidas das famílias trabalhadoras, situação em que admitiria associar-se-lhe em tal estratégia.
Raposa velha da política norte-americana só posso entender essa possibilidade de se estabelecer uma ponte entre a Administração Trump e os Democratas, se se tratar de mera tática destinada a fazer-se ouvir por tais famílias, mesmo enquanto elas andarem iludidas com os amanhãs que cantam do burlão, que ajudaram a pôr na Casa Branca.
É que, mesmo avançando o imperioso programa de requalificação de estradas e aeroportos, cuja degradação se acentuou nos últimos anos, os salários aí praticados continuarão a ser miseráveis, muito abaixo do que operários e capatazes recebiam antes da crise de 2008.
Sanders poderá, então, cavalgar o descontentamento de quem, pelo facto de ter arranjado trabalho, não verá forma de fugir da miséria e aceder ao cada vez mais distante «sonho americano».
Tim Ryan, um congressista do Ohio, quase desconhecido, mas pertencente à mesma tendência que Sanders e Warren, acrescenta: “Temos de voltar a apresentar este partido como o partido que vai ajudar as pessoas da classe trabalhadora, sejam brancos, negros, gays ou heterossexuais, que vai melhorar as suas oportunidades de ganharem mais, de terem mais segurança económica. Desviámo-nos dessa mensagem. E quando não queremos falar sobre a economia, perdemos eleições”.
Como muito provavelmente ele substituirá Nancy Pelosi como líder dos Democratas na Câmara dos Representantes, quase por certo isso significa posicionar o partido em oposição tenaz do campo contrário desde o primeiro dia do novo mandato. E com os olhos postos nas eleições intercalares, onde o desagrado dos agora iludidos com os Republicanos, poderá retirar-lhes a maioria em pelo menos uma Câmara do Capitólio.
2. Está-nos na alma: gostamos de estabilidade temperada por alguma esperança. E é isso que tem feito o governo subir nas sondagens e na apreciação do sentimento geral em que se vive no país. Sobretudo, como acentua Pedro Nuno Santos, “quando olhamos para o que acontece no mundo, seja nos EUA ou na União Europeia, onde a incerteza política é grande, [e] olhamos para Portugal como um espaço de estabilidade.”
E nas Jornadas Parlamentares decorridas na Guarda, António Costa corrobora-o: “Não há bem maior para um país do que viver tranquilamente a sua normalidade”.
Usufruamos, pois, dessa saborosa tranquilidade!
Gina De Goma, Sunset Painting
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