segunda-feira, 1 de abril de 2019

Uns cavaleiros da triste figura


1. É triste ver como há gente a envelhecer tão mal, que nos questionamos como os anos lhes terão enferrujado os neurónios de forma tão irreversível.
Vicente Jorge Silva é um desses casos. Antes do 25 de abril devia-lhe o alimento para a irreverência no então «Comércio do Funchal» de que era diretor. Os comunistas não lhe achavam muita graça (chamavam ao jornal o «vómito cor-de-rosa», aproveitando a cor das suas páginas!), mas, no essencial, encontravam-se aí argumentos consistentes para maldizer a ditadura marcelista. Quando, anos depois, o tivemos como primeiro diretor do «Público», reencontrámos um jornalismo interessante, que não sendo propriamente o sucessor do entretanto desaparecido «O Jornal», era coisa asseada, digna de ser acompanhada. Quem lhe sucedeu foi, normalmente, para sempre piorar o que ia mal.
Vimo-lo, entretanto, na Assembleia da República enquanto deputado socialista, mas sem se destacar por boas ou más razões.
Agora, temo-lo aos domingos a assinar a última página do «Público» e a prosa ora abunda em lugares-comuns, nada com ela se aprendendo, ora vira-se sectariamente contra o Partido que, em tempos, lhe deu albergue parlamentar. A exemplo de outros cavaleiros de tristes figuras, também ele achou na história das ligações familiares entre governantes e assessores do PS, um motivo para debitar uns quantos disparates.  É nessas circunstâncias, que se lamenta a incapacidade de algumas criaturas julgarem-se eficazes no combate à irrelevância do presente, ostentando acriticamente a pose caricatural do que em tempos terão sido.
2. A Ucrânia e a Turquia estiveram em eleições neste fim-de-semana e os resultados não dão azo a grandes dúvidas. Quer o regime antirrusso de Kiev, criado à conta das conspirações da NATO e da CIA, quer o do ditador turco, sofreram derrotas humilhantes, ainda pouco determinantes para as considerar o fim definitivo dos respetivos ciclos de vida, mas, ainda assim, indiciadoras de que eles não tardarão.
Ambos banhados pelo mar Negro, os dois países enfraquecem as ambições dos falcões ocidentais em concluírem o cerco à Rússia de Putin com que julgavam facilitado o ataque final ao Kremlin através de um dos Guaidós locais.
Para os próximos tempos, e depois da Itália do palhaço Grillo, a Ucrânia fica entregue a outro dos seus émulos, aparentemente virgem que nem uma santa, mas tão corrupto e ligado a oligarcas quanto o oponente. Em Ancara a crise económica e financeira - com a lira a afundar a cotação nos mercados e o desemprego a acelerar-se - o aspirante a novo sultão sentirá que já nem o fanatismo islâmico e anticurdo, nem a forte repressão das oposições à conta de duvidosos golpes de Estado o salvarão de um desenlace fatal.

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