domingo, 31 de março de 2019

Falam, falam, mas não dizem nada...


A intensa campanha sobre a suposta endogamia no governo só persiste nos media, por três razões: a primeira é a do início dos efeitos de poupanças nos custos familiares em parte substancial do eleitorado com as deslocações em transportes públicos, que se tornam bem mais baratas a partir de segunda-feira por via dos novos passes sociais. A segunda tem a ver com as demais notícias positivas, que o governo vem difundindo no campo económico: taxa de desemprego como já não se via desde 2002, redução significativa da dívida pública, melhoria do défice além do já esperado. A terceira resulta da incapacidade das direitas encontrarem discursos alternativos com substância para contrariarem os que resultam da competente governação do elenco liderado por António Costa.
Rui Rio tem sido uma má revelação. Quem o julgaria capaz de elevar a discussão política entre governo e oposição com argumentos, que resultassem de um respeito pela inteligência dos eleitores, viu-se esclarecido. No apelo à vertente mais demagógica do marketing político, o atual presidente do PSD só se distingue de Assunção Cristas na contenção com que fala, eximindo-se do tom exaltado por ela comummente utilizado.
Na prática não vale a pena iludirmo-nos com a possibilidade de depressa se esgotar o injustificado assunto, que vem motivando escandalizadas elucubrações de virgens ofendidas. É que, quando esse pavio se esgotar, sem causar qualquer significativo ribombar, logo outro se acenderá noutra campanha mais ou menos requentada. Podem ser os incêndios (e Rio já começou a explorar essa via) ou os serviços públicos do setor saúde (que está convertido em especialidade do CDS!). Como diria o personagem com que Ricardo Araújo Pereira se tornou conhecido, Rio e Cristas falam, falam, mas não dizem nada...
Há que atender, porém, ao reparo pertinente levantado por Daniel Oliveira a propósito das sucessivas falácias das direitas, e de quem melhor poderá aproveitá-las para adquirir uma relevância, que ainda está longe de conseguir: “este tipo de campanha terá sempre o efeito de ricochete e dá argumentos para os eleitores votarem nos populistas. (...) O ganho de curto prazo que julgam ter é o que acabará por os condenar.”
Por agora os novos partidos recentemente criados parecem não conseguir livrar-se da condição de irrelevantes grupúsculos. Mas o perigo está latente e quem os financia vai monopolizando a imprensa, impondo-lhe derivas crescentemente extremistas como se deteta na nova direção do «Expresso». Embora possa ocorrer saudável contrapartida: a perda de espectadores, ouvintes e leitores, que precipitem a falência de quem desmerece a posse de tais veículos de contrainformação.

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