sexta-feira, 1 de março de 2019

Arrogante me confesso!


Tem sido uma constante: quando invoco aqui a minha condição de ateu para pôr em causa alguns dos dogmas cristãos, os meus amigos desse credo reagem, nalguns casos intempestivamente, acusando-me de arrogância intelectual. Assim seja, costumo concluir! Porque como reagir, quando o Papa Francisco justifica os comportamentos do seu íntimo colaborador, agora inculpado por um tribunal australiano, como tendo Satã como efetivo transgressor? Alguém no seu juízo pode aceitar tal argumento? O antigo cardeal Pell abusou de crianças, ponto final. E tem de pagar por tal crime!
Dias passados sobre a publicação do ensaio de Frédéric Martel sobre o qual já aqui abordei - «No Armário do Vaticano» - e sendo tão global o fenómeno da ambígua sexualidade de padres, bispos e cardeais, faz todo o sentido subscrever o espanto de Carlos César, quando constata nada, em aparência, ter-se passado em Portugal, logo propondo que a Igreja nacional ponha a mão na consciência. Porque os casos, que vão sendo conhecidos nos últimos anos, logo se veem abafados, possibilitando que no recato das sacristias continuem a ser abusados acólitos e seminaristas. Sem consequências nem escândalo público.
Justifica-se, pois, a persistente denúncia do que se passa no seio da Igreja Católica em qualquer dos sítios onde se comprovam os seus atos criminosos: nos Estados Unidos e na Irlanda, em França ou na Austrália. Ou cá, se as vítimas saírem do seu mutismo e se puserem a falar!
Perante tanta contradição entre o que faz e o que manda fazer, como se pode confiar em tal credo? Tanto mais que, numa altura em que consegue desvendar os segredos que se estendem do infinitamente pequeno ao infinitamente grande, a Ciência em nenhuma das mais especializadas experiências conseguiu detetar um sopro, um suspiro que fosse, de uma suposta existência divina. O que torna esdrúxulo, senão mesmo chocante que, hoje, quando for empossado no seu novo cargo, o reitor da Universidade de Coimbra imponha  a prévia celebração de uma missa.
Não é só a violação flagrante da contaminação religiosa de uma instituição, que é, e deve continuar a ser irrepreensivelmente laica. Mas, sobretudo trata-se de franquear portas de uma entidade criminosa, e dedicada à ignorância, naquele que deve ser o Templo do Conhecimento.

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