Oito dias depois de ter despedido Pedro Santos Guerreiro da direção do «Expresso», o clã Balsemão demonstra o verdadeiro fito dessa decisão ao nomear para seu substituto o tenebroso João Vieira Pereira. Ora, apesar, de um e outro, serem ideologicamente de direita, existe uma diferença muito grande na cultura, que possuem e, sobretudo, na forma de fazerem jornalismo. Guerreiro sempre revelou uma bagagem intelectual, que tornava desafiante a leitura dos seus textos, mesmo com ele quase sempre discordando. Ao contrário Pereira tem sido sempre um hooligan das direitas, enviesando o bastante os argumentos para dizer o pior possível do governo socialista e das esquerdas em geral. O seu fanatismo neoliberal aproxima-o da tal alt-right que, espicaçada por Steve Bannon, também pretende avançar pelas nossas fronteiras adentro.
Falido economicamente, o grupo Impresa não desiste de levar até ao derradeiro suspiro a porfiada tentativa de devolver às direitas a condução governativa do país. Daí que, em ano eleitoral, quando o futuro se definirá para os próximos anos, o clã Balsemão não se contente com um jornalista inteligente para lhe cumprir os desígnios. Em vez de um diretor dado a floreados poéticos, exige a raiva aguda de um rottweiller da estirpe do agora indigitado responsável. Mas para não revelar tibiezas na missão de que se vê revestido, acolitam-no com David Dinis para que a horda bárbara do «Observador» encontre expansão mais alargada no semanário, até agora adquirido por alguns resistentes, progressivamente desagradados com os seus conteúdos, mas carecidos de alternativa mais digerível.
Adivinhamos que os próximos meses não serão fáceis para as esquerdas tendo em conta o avassalador domínio que as direitas possuem nas televisões, nos jornais e nas rádios. E os exemplos estão à vista com a repetição insana de argumentos risíveis como o do suposto nepotismo socialista, da degradação dos serviços públicos ou dos muitos incêndios, que Marcelo, com afirmações perversas, mandou começar a atear, como forma de estabelecerem uma densa barreira de fumo capaz de iludir o eleitorado quanto aos benefícios colhidos com a governação destes últimos quatro anos.
Em definitivo, o «Expresso» acaba de perder um dos seus mais antigos leitores...
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