quarta-feira, 27 de março de 2019

A rivalidade entre superpotências e os interesses europeus


Acontecendo-me ver, amiúde, os canais televisivos franceses, dá para sentir uma certa fobia relativamente à possibilidade de penetração imperialista chinesa no espaço europeu a pretexto da Nova Rota da Seda. Portugal não escapa, a tal respeito, em ser considerado a exemplo inquietante, a par do governo italiano, que acaba de negociar as obras de modernização dos portos de Trieste e Génova, entregando-os à gestão dos novos parceiros asiáticos. Será que, efetivamente, estamos em vias de ver Pequim utilizar inteligentemente as fraquezas europeias para melhor se afirmar no domínio do comércio mundial? Ou os franceses apenas servem de idiotas úteis aos norte-americanos, que veem com apreensão a possibilidade de mais rapidamente virem a ser ultrapassados pelo gigante oriental enquanto maior superpotência mundial?
Tem sido inepta a tentativa de Washington em chantagear os europeus relativamente à possibilidade de aceitarem a Huawei enquanto um dos parceiros para a nova fase das telecomunicações assente na 5ªa geração. Na semana transata, quando Angela Merkel deu mostras de não se inclinar perante as suas pressões, a Casa Branca ameaçou acabar com a colaboração entre os serviços secretos, que tem sido útil para impedir alguns atentados terroristas. Mas, quando o imperialismo invoca a possibilidade de verem os europeus espiados pelos chineses, estão a querer comer-nos por parvos, porque Snowden bem demonstrou o que continuam a fazer a partir da NSA.
Estamos numa fase da História mundial, que comporta muitas ameaças, mas também grande interesse, porque o sistema capitalista baseado no mercado, tal qual vinga nos Estados Unidos, dá sinais de rutura em muitos dos indicadores sociais e económicos, que denotam o seu precário estado de saúde. Ao contrário o capitalismo de Estado chinês consegue alavancar-se em diferentes direções e revela potencialidades passíveis de acelerarem essa previsível ultrapassagem.
A exemplo de outros grandes Impérios que, antes de implodirem, conheceram um derradeiro momento de fulgor, o norte-americano esforça-se por demonstrar a possibilidade de perdurar muito para além deste século. Daí que pareça voltar a expandir-se significativamente, sobretudo no seu quintal traseiro, graças ao jagunço brasileiro e ao seu fantoche venezuelano afinal incapaz de derrubar o rival com a rapidez, que alguns prognosticavam. E até no espaço, onde a rivalidade entre superpotências ganha particular expressão, e mesmo tendo um orçamento maior do que a soma dos nove concorrentes, igualmente, capazes, de lançarem foguetões para a órbita terrestre, ou mais além, os EUA estão a perder a guerra da notoriedade desde que os chineses conseguiram, algumas semanas atrás, posicionar uma sonda no lado escuro da Lua.
Aos europeus, e aos portugueses em particular, caberá analisar a relação de forças entre tais rivais e procurarem, de um e de outro, colherem o que melhor servir os seus interesses.

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