O atentado terrorista de Christchurch, que vitimou meia centena de frequentadores de duas mesquitas de uma cidade conhecida sobretudo pelo seu mortífero terramoto de 2011, sugere-me o incontornável pensamento de que me socorro nestas ocasiões: embora aos ateus - entre os quais me conto! - seja imputada a arrogância de se considerarem acima dos que carecem dos apoios transcendentes, não há notícia de tal superioridade intelectual se tenha traduzido num ato, nem sequer de um gesto, por mínimo que fosse!, correspondente a uma agressão física para com quem não se filia na mesma racionalidade.
Saramago tinha plena razão quando dizia que deus - qualquer deles! - não é de confiança. Não tanto pela sua abnóxia inexistência, mas pelos que, em seu nome, ignoram os sentimentos mais elevados, que deveriam corresponder-lhe: a solidariedade e compaixão pelos outros, sobretudo pelos que sofrem as injustiças de uma sociedade desigual. Por muito que haja quem procure na Bíblia, no Talmude ou no Alcorão as partes, que justifiquem cumplicidades ecuménicas, serão sempre mais os que enfatizam as justificações para matarem quem considerem hereges ou apóstatas...
A mortandade neozelandesa também é exemplar quanto aos riscos de uma sociedade permissiva para com o acesso da população às armas de fogo. Embora não o imaginasse, impera nesse arquipélago dos antípodas uma legislação tão desregulamentada quanto a conhecida nos Estados Unidos ou, mais recentemente, no Brasil do jagunço.
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