sexta-feira, 8 de março de 2019

A falta de vergonha de quem ainda insiste em falar do Novo Banco


Não vi o debate quinzenal desta tarde durante muito tempo, que outros compromissos se tonaram mais prioritários. Do pouco a que assisti, sobre a questão dos prejuízos no Novo Banco como leitmotiv, foi fácil discernir duas perspetivas opostas: lançando as hostilidades a partir do histrionismo irritante de Heloísa Apolónia as esquerdas, que se juntaram ao Partido Socialista para, nestes três anos, viabilizarem o governo de António Costa, ou se fazem de lerdas, ou são-no mesmo. O primeiro-ministro foi exemplar na forma como explicou as razões, porque  nem nacionalizou o Banco, nem o deixou falir: num e noutro caso os custos para os contribuintes teriam sido, e ainda se arriscariam a ser bem maiores, e com o risco acrescido de ver o que resta do sistema bancário nacional ir pelo cano de esgoto.
Hoje é possível concluir que não havia um Banco mau e um Banco bom. A gestão incompetente, e por isso mesmo criminosa do antigo DDT, transformou o Grupo Espírito Santo numa ruína tal, que só dele se deu in extremis  a mão a um Banco péssimo e a um Banco mau. Daí que sejam injustas as críticas dos aliados políticos, que verberam quem quer resolver a crise do BES com os menores custos económicos e financeiros para os portugueses. E quero crer que têm disso consciência: o fazerem-se de lerdos apenas tem a ver com o jogo politiqueiro de usarem a demagogia mais básica para sublinharem as suas divergências ideológicas.
Mas muito pior se comportam os partidos das direitas. A começar pelo CDS, que nunca poderá ser dissociado de dar tanta importância à bancarrota do BES - essa sim merecedora de usar-se uma palavra que demasiadas vezes surge na boca de Cristas para criticar o governo, que levou em cima com a crise financeira internacional de 2008! - que a sua líder confessou ter assinado a Resolução de 3 de agosto de 2014, quando vinha da praia. Esse momento serviu para demonstrar a irresponsabilidade congénita de Assunção Cristas quanto a cuidar dos interesses nacionais, não se imaginando que mais será preciso revelar para que seja merecidamente votada ao blackout político a que, desde então, se deveria ter conformado.
Mas que dizer do PSD, que tem o despudor de arvorar indignação, quando foi Maria Luís Albuquerque quem prometeu custo zero para os portugueses com uma resolução demasiado tardia, porque consequência do permanente empurrar a realidade do BES com a barriga até se revelar impossível qualquer boa solução para uma crise bancária, que já fizera sucumbir o Banco Português de Negócios do universo cavaquista, o Banco Privado Português de João Rendeiro e trazia no rasto o Banif do falecido Horácio Roque? Ou, como pode o PSD dissociar-se da realidade factual de Durão Barroso, Marcelo Rebelo de Sousa e Cavaco Silva, acompanhados das respetivas esposas ou companheira, terem-se reunido em aprazível convívio na vivenda de Ricardo Salgado para decidir a primeira candidatura do ex-primeiro-ministro algarvio à Presidência da República? Não terá sido essa a explicação para, mesmo quando a falência estava à vista, Cavaco imitar o célebre ministro da Propaganda de Saddam Hussein, declarando o BES uma instituição sólida? Ou como explica o PSD o ter sido o partido a responsabilizar-se pela nomeação do unanimemente execrado Carlos Costa para o Banco de Portugal, com Cavaco e Passos Coelho a pressionarem o enfraquecido José Sócrates a aceitar-lhes a «sugestão», não estando o então primeiro-ministro em condições de negar-lhes a vontade? E, como esquecer que foi este mesmo governador do Banco de Portugal, entretanto renomeado para novo mandato por Passos Coelho, quem designou o braço-direito do ministro Pires de Lima (do CDS, recordemo-lo!) para ganhar 30 mil euros mensais na procura de comprador do Novo Banco, depois de ter mostrado os seus «dotes» nas privatizações desastrosas da ANA, dos CTT, da CP Carga ou da TAP?
Com um curriculum tal, como podem o PSD e o CDS criticar quem tudo anda a fazer para limpar a porcaria toda que deixaram de herança?
A exemplo dos políticos dos partidos, que criticam á esquerda, os das direitas sabem bem tudo isso. Se tiverem um mínimo de consciência reconhecerão consigo mesmos o quão desonestos estão a revelar-se nas suas demagogas diatribes. Mas alegarão consigo mesmos que, nesta situação, têm de dizer qualquer coisa, nem que sejam descabeladas mentiras.

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