Todos os dias são tantas as mensagens políticas veiculadas pelas televisões a partir da perspetiva das direitas, que quase parece estulta a atenção, que possa dar à leitura das crónicas de Vasco Pulido Valente ou de Pacheco Pereira. E, no entanto, ganha-se alguma coisa em conhecer o pensamento de quem, situado dentro dessa matriz, o faz com inteligência e, às vezes, com alguma elegância.
No caso do historiador dos movimentos liberais do século XIX é frequente desagradarem-me alguns pressupostos e conclusões, mas no texto desta semana, encontro uma quase total sintonia com as minhas próprias opiniões. Assim, como não concordar com a repugnância por vermos os canais de notícias passarem os fins-de-semana a preencherem horas de emissão com o chamado «futebol falado»? Que riqueza intelectual pode advir dos discursos clubistas de gente, que parece ocupar as meninges apenas com uma bola redonda e vinte e dois fulanos a correrem-lhe atrás, sobretudo quando sabemos o quão propício é o fenómeno para a ação das extremas-direitas nas hordas de bárbaros, que se autodesignam de claques?
Como não concordar que, para além do que é a sua ideologia, Assunção Cristas ainda mais se desqualifica ao ir a um programa frívolo («Cabaret da Coxa») para dizer que sabe muito bem o significado de MILF («mother I’d like to fuck») e que gosta que assim a considerem?
Ou como não estar com o mesmo Vasco Pulido Valente ao passar um tremendo atestado de ignorância a Joana Marques Vidal quando se pronunciou sobre a injustificabilidade de continuar a existir uma Polícia Judiciária Militar? A antiga procuradora é, por certo, uma grande defensora da independência do poder judiciário, mas não vê problema em que polícias civis prendam militares...
Quanto a Pacheco Pereira como não ter em atenção a tese de uma persistente tentativa da alt-right nacional, próxima das intenções de Steve Bannon em recuperar o PSD de Rio, depois de dele ter-se apossado durante o consulado de Passos Coelho, utilizando todos os meios financeiros, informáticos e mediáticos, que lhe facilitem a recuperação de uma dinâmica, que só a formação da atual maioria parlamentar em 2015 interrompeu? Cem anos depois do surgimento do fascismo, a permanente ação nociva de Mário Nogueira lembra a de outros sindicalistas italianos dessa época que, com as suas irresponsáveis condutas facilitaram a ascensão de Mussolini ao poder. Tanto mais que, por essa altura, os socialistas e os comunistas decidiram entrar numa guerra aberta entre si, abrindo de par em par as portas para a ditadura, que se prolongaria pelo quarto de século seguinte.
Nesta altura, socialistas, comunistas e bloquistas devem ter em conta o velho preceito de não se poderem dar ao luxo de esquecerem a História sob pena de a verem repetir-se...
Sem comentários:
Enviar um comentário