Vale a pena voltar à entrevista do inquilino de Belém à TVI para contestar a sua ideia de um excesso de esquerda, que motivara-lhe a candidatura ao cargo que exerce. Na realidade a que temos ainda sabe a pouco, sendo necessário o seu fortalecimento para ir mais além na redução das desigualdades e na consolidação dos valores civilizacionais.
Mais segurança, mais democracia, é a receita proposta por Alexandre Abreu no artigo do «Expresso» em que propõe solução para fazer regredir as extremas-direitas dos patamares de apoio eleitoral, que, ultimamente, tem conhecido em diversas geografias. Se aos cidadãos forem dadas garantias consistentes em como a governação tenderá a melhorar-lhes a qualidade de vida, com acesso mais facilitado à saúde, ao ensino, à educação e ao trabalho, eles reagirão com indiferença aos que os vêm mobilizando à conta das frustrações e dos medos, das angústias e das ansiedades.
A precarização do trabalho, a perda de qualidade nos serviços de apoios sociais, os cenários distópicos futuros em torno da crise ambiental ou da robotização acelerada da produção industrial, constituem motivos bastantes para atiçarem o medo nos mais alienados por formas diversas de embrutecimento (futebóis, fátimas e quejandos!), impelindo-os a votar em quem deles apenas se servirão como meios para atingirem os seus fins, descartando-os sem escrúpulos quando deixarem de ter qualquer valia.
Compreende-se que opinadores a soldo dos que lucram com o agravamento das atuais circunstâncias, mostrem um inequívoco ódio por quem quer mais Socialismo e menos social-democracia nas esquerdas apostadas em combatê-las eficientemente. Corbyn, por exemplo, é continuamente destratado como velho tonto e ultrapassado, por muito que detenha uma sólida maioria nas bases do trabalhismo britânico. Ou sobre Mélanchon multiplicam-se análises insultuosas na proporção inversa em que se procura endeusar o oportunista Macron. E ainda está por começar a moda de dizer mal dos democratas norte-americanos, que concorrem à Casa Branca afirmando-se, inequivocamente socialistas.
Se as próximas europeias apanharão as esquerdas a contas com as consequências do seu indecoroso conúbio com as receitas neoliberais, desde que Blair serviu de sorriso pepsodent à insidiosa Terceira Via, esperemos que aprendam alguma coisa com os anunciados fracassos, olhando com atenção para a convergência estratégica conseguida em Portugal nos últimos três anos e que deveriam servir de lição para os que, em qualquer dos partidos da atual maioria, ainda insistem em semearem ventos em vez de se pouparem às tempestades, que as trincheiras opostas porfiam em atiçar.
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