sábado, 6 de abril de 2019

O que se pode depreender da entrevista a um patrão


Peter Villax, presidente da Associação de Empresas Familiares e da Hovione, deu uma entrevista à TSF, em que diz o que se espera de um patrão português nos dias de hoje, pelo menos às claras, já que podemos conjeturar se tão moderadas palavras subsistem em fóruns mais privados. Mesmo coincidindo com as direitas políticas na condenação das 35 horas na função pública e dos passes sociais (quem os paga?, pergunta, como se o financiamento desta importante medida para as famílias saísse diretamente do seu bolso). Mas, prudentemente - tendo em conta o quadro parlamentar que se perspetiva para a próxima legislatura - Villax apressa-se a considerar fundamental o aumento significativo do salário mínimo nacional dele - algo que só pode agradar a quem ganha salários muito baixos! -, porém fazendo depender o crescimento da produtividade, que bem sabemos derivar mais da formação contínua e dos meios de produção colocados à disposição de quem trabalha pelos respetivos patrões.
É quase no início da entrevista que surge o seu momento mais interessante, quando Villax conta os seus contactos diretos com António Costa: “Quatro dias antes de António Costa ser nomeado primeiro-ministro, portanto quando ainda havia aquela incerteza, ele convidou-me para o Largo do Rato para me explicar o seu programa, porque eu tinha manifestado grandes preocupações em relação a um governo com participação dos comunistas e do BE. Tivemos uma conversa de hora e meia e efetivamente o meu prognóstico era desfavorável mas ele, com a sua jovialidade extraordinária, ouviu-nos. Encontrámo-nos agora há dias e ele diz-me: "Lembra-se daquela reunião? Então quando é que dá a mão à palmatória?" É uma pessoa com um fantástico sentido de humor e fair play. Costa representa um capital de confiança que não existia antes deste governo e essa confiança foi um ativo essencial para as pessoas sentirem que havia futuro.”
Sem continuar a prestar-se à rendição proposta por António Costa, Villax até revela aqui alguma empatia com o primeiro-ministro. Mas com a complacência dos que se julgam poderosos e olham de cima para os que constituem momentâneo incómodo. Depois da aparente simpatia de muitos patrões por José Sócrates, durante os anos em que ele parecia imbatível, bem sabemos como eles são eficientes na mudança de máscaras consoante as circunstâncias. Por agora Villax é o exemplo concreto de ainda ser hora deles envergarem a que lhes dá aspeto de inofensivos cordeiros. Mas bem os adivinhamos impacientes por largarem tal capa e voltarem à de lobos que se ajusta mais conformemente à sua verdadeira natureza.

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