segunda-feira, 29 de abril de 2019

Para que servem conjunturalmente os fascistas


O fascismo até tem, afinal, algum préstimo! É o que se pode depreender das eleições ontem ocorridas em Espanha em que a segmentação das direitas catapultou as esquerdas para uma vitória próxima da maioria absoluta. De facto, se analisarmos os resultados disponíveis, a soma do PSOE com o Unidas/Podemos corresponde a 43% dos votos contabilizados, e iguala precisamente os atribuídos ao PP, ao Ciudadanos e ao VOX. Daí que, com algum cinismo, possamos agradecer aos fascistas liderados por Santiago Abascal a irrupção na liça política para explorarem as emoções de eleitores, que reagiram impulsivamente aos anseios catalães em acederem á independência. Isso garantiu que a soma dos dois partidos das esquerdas propiciasse mais 18 deputados do que os atribuídos às direitas. E há o acréscimo de um Senado muito maioritariamente dominado pelos socialistas.
Frustraram-se, assim, os anseios de quantos viram no VOX a irrupção arrebatadora de uma nova vaga fascista, que reiterasse a dinâmica suscitada pelas vitórias de Trump ou de Bolsonaro. Tomando os desejos por realidades até já Nuno Melo se via convidado a abrilhantar comícios e manifestações dos admirados parceiros potenciais, quiçá eivado da ambição de concretizar uma federação ibérica de partidos fascistas financiada por Steve Bannon.
Confirmando o meu inabalável otimismo, e confiando que Pedro Sanchez governará com a sagacidade entre nós, demonstrada por António Costa, prevejo que o balão, agora preenchido pelos votos de protesto emotivo confiados a Abascal, se esvazie, tornando conjuntural um fenómeno sociológico apenas explicável pelas circunstâncias muito particulares.
Entre nós as sondagens vão confirmando que esse tipo de singularidades, expressas no arrivismo de Santana Lopes ou no trogloditismo de André Ventura - apostados em aproveitar uma imprensa favorável e nas fake news, que justificam maior prudência nos seus putativos crédulos! -, não causarão tanta mossa nas votações do PSD ou do CDS quanto, há um par de meses, julguei possível, garantindo ao PS, ao Bloco e à CDU uma vitória ainda mais expressiva. O que só abona os portugueses quanto à racionalidade e ponderação com que olham para a realidade optando pelas soluções de esquerda em detrimento de quantos apostariam numa sociedade mais injusta e desigual. Só espanta ainda existirem demasiados eleitores a votarem em quem, assim os deixassem, tudo fariam para os prejudicar. Não porque emocionalmente os motive essa decisão, mas porque para tal os impelir a ignorância e o preconceito.

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