segunda-feira, 22 de abril de 2019

Não é a Terra que está em causa, somos nós!


Hoje é Dia da Terra. Para celebrá-la como mãe pródiga, que nos sustenta a vida, mas de quem cuidamos tão mal.  Porque são ainda escassas as vozes, que se erguem em sua defesa e, pior ainda, quase nunca dizem o essencial: não é ela quem verdadeiramente está em causa, porque continuará a orbitar o sol durante milhões de anos, estando ou não habitada por seres humanos. Somos nós quem estamos ameaçados, porque nos recusamos a aceitar as evidências já percetíveis no dia-a-dia: 90% da população mundial respira ar poluído e são já 600 mil as crianças, que morrem anualmente por essa inequívoca razão.
Para termos um planeta sustentável para filhos, netos, bisnetos e todos quantos da nossa genealogia germinem, teremos de alterar profundamente o ciclo do que consumimos e deitamos fora. É a sociedade do consumo, que se revela insustentável, é o sistema capitalista que deve conhecer um irreversível fim.  Não é possível que, anualmente, continuemos a extrair do planeta quase cem mil milhões de toneladas de recursos naturais, ou que cada um de nós gaste em média mais de doze dessas toneladas no mesmo período. E que todos os anos as lixeiras e aterros sanitários recebam 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos ainda em estado de serem consumidos.
É certo que a consciência ecológica vai-se acentuando. Gestos tidos como normais há dez ou vinte anos são agora objeto de autocensura ou de condenação coletiva, tornando-os menos comuns. A rejeição dos plásticos está atualmente a incutir-se na cultura dos povos, mas foram necessárias muitas imagens de baleias ou peixes com os sistemas digestivos atulhados desse entulho, ou praias paradisíacas transformadas em inacessíveis lugares de prazer, para que nos convencêssemos da urgência do problema. Há, igualmente, a crescente noção de ser o diesel um combustível condenado por muito que os coletes amarelos em França ou os lobbies automobilísticos mintam descaradamente para fazerem perdurar os seus interesses lesivos da Humanidade.
Afinam-se, pois, alguns paliativos, sem que prevaleça a ideologia exigível para as décadas vindouras: a associação dos discursos igualitários, que das esquerdas constituem fio identitário, com os da defesa do meio ambiente. Não admira que, mais do que os partidos comunistas, socialistas ou sociais-democratas, sejam os Verdes, os que, à esquerda, estejam a ser resilientes em sucessivas eleições por essa Europa. Operar a síntese de uns e de outros constitui a única hipótese para que as iminentes distopias tendam para as esperançosas utopias de que nunca deveremos abdicar...

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