quarta-feira, 10 de abril de 2019

Os argumentos que não pude usar esta manhã


Não me tivesse a chuva inesperada de ontem, durante o desporto matinal, afetado a garganta e esta manhã teria comparecido à ação de campanha organizada em Cacilhas para apoiar a candidatura da lista socialista ao Parlamento Europeu.  Como digo amiúde aos amigos e conhecidos, gosto imenso de participar em ações de rua por ser aí que melhor meço o pulso ao eleitorado  e compreendo quanto vulnerável possa estar às mistificações das direitas ou mais consciente de quem melhor lhe poderá defender os interesses.
Ontem, quando previa o ato militante a que, por força da ameaça gripal me escusei, um primo questionava-me se não temia o efeito da campanha sobre os familiares, que as direitas haviam promovido nas semanas anteriores. Ainda não lera a mais recente crónica de Ana Catarina Mendes no «JN», mas antevia o recurso ao mesmo argumentário a quem se manifestasse com tais atoardas: os quase três anos e meio de governação socialista provaram ser possível “mais e melhor proteção social, mais e melhor emprego, aumento do salário mínimo, descongelamento de carreiras, melhor mobilidade - sustentável económica e ambientalmente, tudo isto com contas equilibradas. Contas equilibradas significam futuro para as próximas gerações.” Para os menos primários, capazes de discernir o que se esconde por trás de tal campanha, sobraria ainda o irrefutável comprovativo da substancial melhoria da situação económica e financeira do país: o duplo leilão com títulos a dez e a dezoito anos, que resultou na mais baixa taxa de juro alguma vez verificada nesse tipo de operações, demonstrativa da rendição dos mercados à solução política, que haviam encarado com grande desconfiança, quando consagrada.
Perante quem se dispusesse a discutir estes assuntos com maior disponibilidade - e sempre surge quem o revele! - seria sempre útil recorrer ao que Rui Rio tem anunciado como eixos importantes do seu programa. Não apenas a imposição de IRS para quem dele está isento, mas também a da enormíssima redução do IRC para as empresas com prejuízos, que passariam a ser todas. Mas também o seu mais recente dislate, o da privatização da Caixa Geral dos Depósitos a pretexto de “com os privados haver maior rigor na gestão”. Com muito sentido de oportunidade Fernando Medina viria perguntar na TVI onde tem andado Rui Rio nos últimos dez anos, tendo em conta o que, entretanto, se tem sabido sobre o «rigor» dos privados na gestão dos negócios bancários.
Mas sobre o comportamento dos empresários portugueses o JN/ Dinheiro Vivo reiterou-nos elucidativo retrato da sua ética (um termo que tem estado muito na moda, mormente por Marcelo Rebelo de Sousa, epígono da máxima de fazer como ele diz, não como ele fez): o vencimento médio dos líderes das maiores empresas portuguesas foi 52 vezes maior que o dos trabalhadores que dirigem. E como contraponto surge a constatação de Portugal ser dos países europeus onde os patrões menos gastam em formação dos trabalhadores.
Razão para secundar a tese de Daniel Oliveira que, a respeito da recente discussão parlamentar sobre o reconhecimento, ou não, da atividade lobista no parlamento, diz exatamente o que sobre o assunto penso: Pois a minha posição sobre o lóbi é exatamente a oposta à que parece fazer o seu caminho. Não se deve regulamentar o lóbi, deve-se proibir o lóbi. Regulamentar uma atividade comercial que consiste em receber dinheiro para facilitar o contacto com um deputado é legalizar o tráfico de influências e a desigualdade no acesso ao poder político. É privatizar a democracia.”
Resta ficarmo-nos com aquela que, para os interessados pela Astronomia, é a grande notícia do dia: a captação da primeira imagem do Sagitário A, o enorme buraco negro, que se oculta no centro da nossa galáxia.

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