quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

E não se pode transferi-lo a custo zero?

Ao longo dos mais de trinta anos de militância no Partido Socialista foram muitas as alturas de grande insatisfação em que me via em discussões sobre a duvidosa pertença ao ideário de esquerda por parte de alguns camaradas, que não se compreendia bem porque não estavam mais adequadamente no PSD ou no CDS. Alguém acabava sempre por fazer um comentário depreciativo sobre o escasso sentido de exigência do Partido ao aceitar no seu seio, quando se comportava mais de molde a prejudica-lo do que a beneficiá-lo.
Nos últimos anos, e olhando para a Grécia ou para a França, como antes sucedera na Itália, constata-se o grande perigo de não padronizar essa exigência de modo a evitar que um qualquer Venizelos ou um qualquer Manuel Valls cuide de destruir uma cultura e uma tradição de luta com dezenas de anos, transformando num monte de ruínas o que chegara a simbolizar um sólido edifício do poder político.
A eleição de António Costa para secretário-geral, e posteriormente para primeiro-ministro, fez-nos crer que um tempo novo emergiria e a separação de águas se cumpriria por muito que os arrivistas de ontem, sempre lestos a incensarem António José Seguro, logo se colassem a quem antes tinham difamado, maltratado, desqualificado. Que isso, infelizmente, não sucedeu comprova-se no inenarrável discurso do secretário-geral da UGT nas Jornadas Parlamentares do CDS. O que Carlos Silva afirmou é indigno de um socialista pela forma como analisa o que se passou na Revolução russa de 1917 - para ele resultado de um grupo de agitadores e não da vontade genuína do povo em livrar-se dos czares - e no que significa na vocação para se pôr de cócoras perante as administrações como forma de, supostamente, «defender» os que trabalham.
Em tempos idos - e muito embora tenha conhecido a UGT quase desde a sua formação! - ainda quis crer que ela ultrapassaria o quão torta nascera, apenas para servir de instrumento de sabotagem das lutas laborais numa altura em que o equilíbrio entre capital e trabalho era mais favorável aos primeiros. Bem intencionado queria acreditar que a organização  seria capaz de se tornar numa coisa com algum sentido de decência. Mas, se João Proença se revelaria encomenda pior do que Torres Couto, Carlos Silva está apostado em demonstrar que o mais ruim ainda se tornou possível.
Considerar tal espécime um camarada é algo que me desagrada profundamente. É que, apesar de enquadrados pelas mesmas bandeiras e palavras de ordem, as nossas mundividências são tão opostas como os dos projetos de sociedade que ansiamos ver concretizados no futuro. Daí que me questione o que tal figurão continua a fazer no Partido que teimo em considerar o meu, pagando atempadamente as quotas para que defenda aquilo que, com a atual maioria parlamentar, tem demonstrado ser possível: uma política orientada para o benefício da maioria da população, aumentando-lhe os rendimentos e a facilidade em se empregarem, ao mesmo tempo que evoluem positivamente todos os demais indicadores económicos e financeiros.
Os que tão nervosos andam com o rumo dos acontecimentos e se servem de magistrados, juízes, jornais, televisões e outros meios para o sabotarem têm em Carlos Silva um papagaio voluntariamente obsequioso. Bem se justificaria a sua transferência a custo zero para as trincheiras políticas onde melhor se sente identificado.

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